
Muitas vezes sinto‑me irritado e frustrado na missa. Não com a missa em si, note‑se bem. Inicialmente, quando me tornei católico, costumava ficar bastante irritado e frustrado com a forma como a missa era celebrada. Mas essa loucura a que assistia nos primeiros anos parece ter acalmado um pouco. Ou talvez seja apenas o facto de, hoje em dia, eu ter a sorte de frequentar lugares onde a missa é bem celebrada. Na maior parte das vezes, estou simplesmente grato por poder ir à missa. Muitas pessoas não têm esse luxo, ou arriscam a própria vida para o fazer.
Não, o que me irrita e frustra sou eu próprio, porque a minha mente divaga. Acho isso estranho e perturbador. Estranho, porque é o próprio Cristo que está presente. Perturbador, porque se eu não consigo obrigar‑me a escutar Deus, então a quem escutarei?
Quero dizer: se Cristo estivesse presente não sob as espécies do pão e do vinho, mas tal como apareceu aos discípulos no cenáculo depois da crucificação, a minha mente também divagaria? Estaria eu a pensar: “Uau, é Jesus, mas o que é que será o almoço?” ou “Estas são as palavras da vida, mas será que me lembrei de enviar aquele e‑mail aos meus alunos?” Teria de dizer: “Como é, Senhor? O que disseste? Desculpa, distraí‑me.” Isso seria mais do que um pouco embaraçoso.
As Escrituras são as próprias palavras inspiradas de Deus, e mesmo assim a minha mente divaga quando as escuto. Se Deus me aparecesse numa visão e me dissesse, como disse a São João: “Escuta e escreve isto!”, estaria eu apenas a ouvir pela metade e teria de Lhe pedir que repetisse? Terá São João dito: “Espera, Deus, o que foi isso? Perdi o fio à meada. Acabei de me lembrar de uma piada engraçada que o Mateus costumava contar.”
Para onde é que a minha mente divaga? Bem, um dia, estava ajoelhado durante a consagração e, enquanto a minha mente vagueava, pensei: “Talvez devesse escrever um artigo sobre como a minha mente divaga na missa.” Isto já é perverso. Penso que ouvi qualquer coisa, outro dia, sobre permanecer acordado e “manter‑se vigilante”. Mas está tudo um pouco enevoado, porque a minha mente foi parar ao que vou pôr no programa da disciplina no próximo semestre.
Uma coisa (entre muitas) que admiro na liturgia bizantina — e que nós, no Ocidente, deveríamos considerar — é que, antes das leituras, o sacerdote anuncia: “Sabedoria! Estejamos atentos!” Adoro isso. É um excelente lembrete.
Talvez na Igreja Ocidental precisemos de um “aquecimento” maior antes das leituras bíblicas — algo que indique liturgicamente: “Muito bem, pessoal, respirem fundo, afastem a sonolência e coloquem o cérebro no sítio certo. Esta é a palavra de Deus, por isso vamos todos… prestar atenção!” Talvez este seja um dos propósitos de tempos preparatórios como o Advento e a Quaresma.
Da mesma forma, seria bom que a homilia nos ajudasse a recordar as leituras. A minha mulher tem um sistema de pontos para as homilias, e o sacerdote ganha pontos extra se mencionar todas as leituras — muitos pontos se mencionar o salmo do dia na homilia, coisa que, curiosamente, quase ninguém faz. Isto é estranho, porque os salmos são sempre tão belos e pertencem a um dos livros mais comentados de toda a Bíblia.

Mas, para mim, a reverência na missa consistiria em lembrar‑me de que o Senhor está aqui, por isso presta atenção! Isto é importante. Isto é a chave de toda a minha vida. Sem isto, estou perdido. Todo o resto é, em grande parte, secundário.
Então, que posso eu dizer? É frustrante e irritante. A missa podia ser melhor celebrada; isso talvez ajudasse. Mas uma lição das Escrituras parece ser que, mesmo que Jesus esteja no cimo de uma colina, ou num barco, ou a caminhar no meio da multidão pela rua, eu deveria esforçar os ouvidos e a alma para prestar atenção. Mas não o faço.
Talvez o problema seja, como diz T. S. Eliot, que “a humanidade não consegue suportar demasiada realidade”. É verdade; há dias em que fico completamente maravilhado com o facto de o Deus de toda a criação se importar o suficiente connosco para nos falar, e isso é quase demais. Espera, Ele fez o quê? Deus encarnado tocou naquele homem? Chorou? Morreu numa Cruz? Às vezes, isso faz curto‑circuito a tudo dentro de mim.
Mas, por muito que gostasse de dizer que o problema está sempre ligado a um profundo assombro metafísico, a verdade é que também não escuto assim tão bem os meus vizinhos, e isso definitivamente não é resultado de assombro metafísico profundo. É apenas preguiça mental e falta de concentração. Gostava de conseguir dizer ao meu cérebro: “Fala menos, escuta mais”, e “procura primeiro compreender e só depois ser compreendido”, como nos dizem para fazer. Mas o meu cérebro é notoriamente pouco colaborativo.
Na sua obra Itinerário da mente para Deus, São Boaventura pergunta‑se porque é que toda a gente não reconhece, a todo o momento, que Deus está presente na Criação. A sua resposta é que as nossas mentes são atraídas para outras coisas. O que precisamos, diz Boaventura, é de humildade. Ele tem, sem dúvida, razão.
Por isso, suponho que devo ir à missa e fazer uma oração, algo como:
Senhor, aqui estou, na esperança e na oração de que o Espírito Santo reze em mim e através de mim; na esperança de que te agrade o meu desejo de te agradar; na esperança de que, se durante as longas partes da oração eucarística eu começar a pensar se aquela encomenda da Amazon estará à porta de casa quando eu regressar, não leves isso a mal. Tenho simplesmente dificuldade em desligar todo o ruído que vai na minha cabeça. Mas estou a trabalhar nisso. Mesmo que a minha mente divague, e mesmo quando não presto atenção cuidadosa a tudo o que disseste, espero que compreendas: continuas a ser o Número Um e a coisa mais importante da minha vida.
E depois só me resta ter a mesma conversa com a minha mulher.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 16 de Dezembro de 2025)
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