
Uso computadores para trabalhar e para diversão desde 1982. O meu primeiro PC foi um Kaypro II. Na altura era uma maravilha da alta-tecnologia e, como bónus, era (teoricamente) portátil. Robusto e fiável, tinha a mobilidade de um lançador de mísseis antitanque. Mas eu adorava aquela máquina! Só suportava texto – letras brancas sob um ecrã negro minúsculo, sem o consolo de grafismo – mas servia para processamento de texto, ou como se dizia antigamente, “escrever”.
Mas o amor na era da tecnologia é sempre fugaz. Eis que apareceu o GUI, o “graphical user interface” e eu passei a usar computadores da Apple ou do Windows. Porquê? Não será evidente? O meu Kaypro parecia de repente uma rapariga coberta de verrugas em comparação com estes novos sistemas de operação sedutores. Todas aquelas horas de falta de inspiração, a olhar para um ecrã vazio sem que uma ideia criativa me entrasse na mente, podiam agora ser preenchidas numa tempestade de cor, jogando Pac-Man.
Mas também esse romance acabaria por azedar. É o normal nas relações de apenas um sentido. Um dia finalmente percebi, depois de mais uma ronda desapontante de Monkey Island. Andava a pagar pequenas fortunas a empresas de tecnologia para usar software que na verdade não me pertencia, que não podia partilhar e à qual não conseguia aceder de forma legal. Mas já estas empresas nada me pagavam para usar os meus dados pessoais, que guardavam e depois usavam para me vender mais software que eu não detinha, para usar em sistemas de operação que não compreendia e que funcionavam em caixas mágicas cujas entranhas permaneciam para mim um mistério.
Por isso aprendi a usar Linux.
O Linux é um sistema operativo gratuito com uma grande variedade de software também ele gratuito. E funciona em qualquer computador. Hoje o Linux inclui GUIs opcionais que o tornam praticamente idêntico ao desktop de um Mac ou de um Windows, mas a forma original e mais útil de comunicar com um computador que usa Linux ou qualquer outro sistema operativo é o CLI, ou “command line interface”.
O CLI está para o GUI como o suaíli para o inglês. São duas formas de linguagem. Mas é aí que a semelhança termina. Se para si não se passa nada quando ouve falar de uma linha comum de CLI como “sudo dnf config-manager –add-repo <repository_url>”, isso faz de si um ser humano normal. Mas para um computador, que passa a vida a lidar com zeros e uns com uma capacidade literalmente inumana, é absolutamente preciso.
A Apple e o Microsoft escondem o seu motor. Mas a programação Linux deixa-nos espreitar debaixo do capot. O funcionamento de um computador não é magia, mas também não é remotamente humano. E aqueles que acham que caso as “máquinas inteligentes” algum dia se tornem conscientes serão simpáticas e amigas dos humanos, deviam ir procurar ajuda especializada.
Mas qual é a conclusão a que quero chegar? Só isto: As aparências iludem. E não é apenas com computadores. A superfície de uma cultura avançada e repleta de tecnologia pode brilhar com promessas de um grande futuro, mas o que se passa debaixo do capot é outra coisa.

Dou-vos um exemplo. Entre metade e dois terços dos adultos americanos apostaram, pelo menos ocasionalmente, ao longo do último ano. Quase 8% apostam todos os dias. Isto inclui tudo, desde lotarias até apostas online e casinos físicos. Para alguns, este hábito é só entretenimento. Para outros é um problema grave.
As estatísticas sobre o jogo são reveladoras. A classe económica e a educação interessam, mas não é simples. Maiores rendimentos suportam mais hábitos de aposta, mas os jogadores de classe mais baixa sofrem muito mais com os riscos reais e os danos. E são especialmente vulneráveis ao marketing manipulativo.
De uma perspectiva católica, o jogo não é inerentemente errado, desde que feito com moderação e sem pôr em causa as necessidades básicas do próprio e as responsabilidades para com os outros. Mas na prática a indústria das apostas dos Estados Unidos está organizada para produzir os resultados contrários. Em 2023 essa indústria investiu mais de 730 mil milhões em publicidade. Em 2025 esse valor excederá o bilião de dólares. É impossível ver desporto na televisão sem ser assolado por um furacão de anúncios sedutores de apostas, protagonizados por celebridades e especialmente desenvolvidos para viciar os jogadores e torná-los jogadores frequentes.
A ideia de “design” é importante. Trata-se da besta interior da nossa cultura – é mais aparente quando falamos de apostas, mas está longe de estar limitado a isso.
No seu livro Addiction by Design: Machine Gambling in Las Vegas a investigador social Natasha Dow Schüll descreve como os casinos modernos usam técnicas de condicionamento comportamental para maximizar o envolvimento dos jogadores e alimentar grandes lucros. Tudo nos casinos modernos, desde o design dos interiores até às luzes e os sons das máquinas – está cientificamente estruturado para manter os jogadores a apostar, às vezes até desmaiarem de exaustão.
Uma das mulheres que Schüll entrevista costumava usar uma fralda para evitar ter de ir à casa de banho e perder tempo com a sua máquina preferida. Outra mulher admitia estar “em controlo” do seu hábito, mas no momento seguinte admitia “querer ser um robot, desprovida de capacidades autodirigidas”.
Outra ainda, Mollie, estava viciada em poker de máquinas. Schüll escreve:
Quando pergunto a Mollie se ela espera ganhar muito, ela dá uma risada curta e acena com a mão, em sinal de negação. “No início, havia entusiasmo em ganhar”, diz, “mas quanto mais eu jogava, mais consciente ficava das minhas chances. Mais consciente, mas também mais fraca, menos capaz de parar. Hoje, quando ganho — e ganho de vez em quando —, simplesmente volto a colocar o dinheiro nas máquinas. O que as pessoas nunca compreendem é que não jogo para ganhar.” Então, por que é que ela joga? “Para continuar a jogar — para permanecer naquela zona da máquina onde nada mais importa… O mundo inteiro está a girar à nossa volta, e não conseguimos ouvir nada. Não estamos realmente lá — estamos com a máquina, e é tudo o que temos.»
Há dias em que os casinos parecem ser uma imagem do dia-a-dia americano. Criámos uma nação de bênçãos sem paralelo, de apetites vorazes e de vícios; e uma confusão profunda sobre o que significa realmente ser “livre”. Mas a resposta tem estado sempre presente. Está naquele livro em que afirmamos acreditar. Comecem com João 8,32 e sigam com 14,6 para concluir.
Francis X. Maier é investigador senior em Estudos católicos no Ethics and Public Policy Center. O seu mais recente livro é True Confessions: Voices of Faith from a Life in the Church .
Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quarta-feira, 5 de Novembro de 2025)
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