
Estamos no segundo dia do Conclave, e até agora nada de fumo branco em Roma, mas o mundo continua parado a olhar para uma chaminé e a comentar gaivotas. Há algo de absurdo, mas ao mesmo tempo de simbolicamente belo nesta espera em que não sabemos absolutamente nada, apesar de termos tantos meios de comunicação na ponta dos dedos. Para aqueles que como eu são pagos para ter opinião e comentar aquilo que se está a passar, é também um banho de humildade.
Ainda assim, lá vamos nós comentando. Estive na Rádio Observador a explicar o que acontece no final dos nove dias de luto decretados depois da morte do Papa Francisco; na SIC Notícias comentei os principais “Papabili”, dando destaque a Pietro Parolin e Luis Tagle. Mas para terem noção de como o terreno é movediço em Roma – que na verdade foi construída por cima de um pântano – ao final desse dia já se dizia que os dois estavam a perder apoio. Entre outras coisas, começou a circular uma notícia de que o cardeal Filipino gosta de jogar nos casinos de Macau… Quando me perguntam se o Cardeal D. Tolentino Mendonça tem possibilidade de ser eleito Papa, respondo que acho que não, por uma série de razões, mas uma das razões é exactamente a falta daquilo a que os ingleses chamam “hit pieces” dirigidas a prejudicá-lo. É o lado mais obscuro de todo este processo…
O Conclave vai ser longo ou curto? A verdade é que ninguém arrisca previsões. Mas acho que é preciso desdramatizar a ideia de um conclave longo, como expliquei aqui.
E ontem também estive na AnewZ, um canal internacional, para comentar o início do Conclave, em inglês.
Estes dias também me levaram a admirar mais outra dimensão deste processo, a forma como a Igreja consegue transitar entre a tristeza da morte do Papa, o luto e depois a ansiedade da espera e finalmente a enorme alegria de ter um Santo Padre novo. Mas o Papa anterior não está esquecido, e este padre indonésio com quem conversei recentemente diz que no arquipélago a visita de Francisco, uma das últimas que fez, não foi esquecida.
E para descansar um bocado do Conclave, temos Randall Smith, do The Catholic Thing, a pegar numa música da Joan Osborne para perguntar o que faríamos se, de facto, Deus viesse falar connosco como “um tipo normal”. É um exercício curioso, cuja leitura recomendo.
Despeço-me por agora, na expectativa, como todos, e de olhos postos na chaminé e nas gaivotas mais famosas do mundo. Podem-me ir vendo pela SIC Notícias, tanto agora como quando houver fumo branco.