
No filme “O Violinista no Telhado”, quando os judeus da vila ficcionada de Anatevka são tragicamente despejados das suas casas pelo governo russo, um deles pergunta ao seu querido rabino: “Rabi, toda a nossa vida esperámos o Messias. Agora não seria uma boa altura para Ele vir?” Ao que o rabino responde: “Teremos de esperar por Ele noutro lugar. Entretanto, vamos começar a fazer as malas”.
Os cristãos tendem a ficar tristes por ver que existem aqueles que não reconhecem a primeira vinda do Messias, mas também devemos ter profundo respeito por alguém que pode dizer honestamente que no meio de todas as dificuldades e preocupações, a sua vida tem sido dedicada a vigiar e a esperar a sua chegada.
Espero que não me achem um grande desmancha-prazeres ser recordar as pessoas que o Advento não tem só a ver com a primeira vinda de Cristo. Qualquer pessoa que ouça as leituras na Missa saberá que durante grande parte deste tempo a Igreja estará a dirigir as nossas atenções para o seu advento no fim dos tempos, quando “O Filho do Homem” virá nas nuvens, revestido de poder e de glória (Marcos 13,26).
A dupla directiva que recebemos repetidamente sobre isto é que devemos “manter-nos vigilantes”, pois “ninguém sabe o dia nem a hora” e “o dia do Senhor virá como um ladrão na noite”. (Apocalipse 16,15; Mateus 24,43; 1 Tessalonicenses 5, 2-4; Marcos 13, 24-37).
Quando surge o tema da Segunda Vinda, nas minhas aulas, recordo sempre aos meus alunos que, uma vez que “ninguém sabe o dia nem a hora”, e que esta virá “como um ladrão na noite”, muito honestamente – e digo-o com toda a seriedade – Ele poderá vir antes do fim das aulas.
Da mesma forma, digo-lhes que, uma vez que 2 Pedro 3,8 nos diz que mil anos são como um só dia para Deus, se apenas acontecer daqui a uma semana em tempo de Deus, isso serão sete mil anos. Por isso mais vale estudarem para o exame final.
Mas estejam atentos.
Às vezes pergunto aos meus alunos o que gostariam que Cristo os visse a fazer quando regressar? A planear alguma maldade? A procurar coisas sem sentido na internet? A ver episódios seguidos de uma qualquer série secante? A cochichar no iPhone? O que diríamos se Cristo nos perguntasse: “Então, meu filho, o que estás a fazer com a vida e os dons que te dei? Deixei-vos com 10.000 talentos. O que fizeste com eles?” Queremos mesmo ter de responder: “Ah… Estão por aqui algures… Acho…”?
Pessoalmente, gosto de fazer uma curta sesta à tarde. Às vezes preocupo-me que Cristo chegue precisamente nesse momento. Parece-me inteiramente possível, uma vez que parece ser a hora em que mais gostam de me interromper. Se Ele vier, o que é que eu responderei se me perguntar: “O que estás a fazer? Não te disse mil vezes para vigiares?”
Eu preferia que o Senhor me visse a ajudar a minha mulher a lavar a loiça ou a corrigir exames dos meus alunos. Então talvez me dissesse: “Servo bom e fiel”. Mas é bastante mais provável que me apanhe numa sesta ou a arranjar desculpas para evitar lavar a loiça ou corrigir trabalhos. E depois, o que é que eu diria? “Mas Senhor, tu sabes tudo, sabes que eu odeio fazer essas coisas”. O mais provável é que ele me recordasse que: “Não te disse para pegares na tua cruz todos os dias e seguir-me?”

Ah, pois.
Os académicos dizem por vezes que na Igreja primitiva existia alguma confusão sobre se o regresso de Cristo – a Parousia – seria pouco depois da sua morte, ou se seria passado algum tempo. Assim, por exemplo, num artigo de 2018 o autor Mark Keown começa:
O trabalho académico do Novo Testamento costuma dizer que existia a expectativa de uma parousia iminente, na primeira geração da Igreja. Por exemplo, I. H. Marshall, afirmava em 1970 que: “sobre este ponto existe total acordo entre os académicos”. Normalmente pensa-se que esta esperança foi frustrada e que os escritos mais tardios reflectem uma Igreja a lidar com o chamado “adiamento da Parousia”. A expectativa de uma Parousia iminente é sobretudo associada ao Evangelho de Marcos (sobretudo Marcos 9,1; 13,20) e as epistolas indisputadas de Paulo (por exemplo, Romanos 13,12; 1 Coríntios 7,26; Filipenses 4,5).
Mas Keown argumenta contra esta perspectiva, afirmando que embora seja provável que pelo menos alguns cristãos esperassem uma Parousia iminente (ver por exemplo 2 Tessalonicenses 2,1-2; 2 Pedro 3,4), “é pouco provável que os autores do corpus de Marcos e de Paulo defendessem a ideia de uma Parousia iminente”. O professor Keown nota que ele não é o único a argumentar contra esta ideia de uma Parousia iminente em Marcos e Paulo e cita um batalhão de fontes que sustentam a mesma ideia, pelo que deduzo que não existe, afinal “total acordo”.
Eu estou menos interessado em discutir o ponto agora, do que em notar que a questão não está resolvida. Cristo deixou claro que “ninguém sabe o dia nem a hora” e que estes chegarão “como um ladrão na noite”. Por isso temos de estar atentos. O que queremos que Cristo nos encontre a fazer com as nossas vidas se voltar agora mesmo – antes do final do dia de hoje? A Segunda Vinda pode estar muito mais iminente do que possa pensar.
Por outro lado, também pode demorar algum tempo, por isso mais vale irmos tratando dos nossos assuntos. Ou, para ser mais preciso, mais vale irmos tratando dos assuntos de Deus. Acredito que essa seja a chave para compreender a época do Advento.
A realização de que a alegria plena ainda está para vir não nos deve distrair da alegria do Natal. Não é que o mundo seja todo bom. Ainda há muito trabalho a fazer. O Messias que veio – o Verbo feito carne – regressará. Quando o fizer, que nos encontre a endireitar as veredas.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024)
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