
Deus criou-nos a todos à sua imagem e semelhança. Logo, cada um de nós possui uma dignidade que ninguém, muito menos um governo, pode violar. Deus quer que lhe sigamos, mas dotou-nos de livre arbítrio. Ele não nos coage. Convida. Nenhum Governo justo pode coagir quem quer que seja em matéria de religião.
Felizmente os fundadores dos Estados Unidos concordavam. Eles acreditavam num Deus que não só nos cria iguais, mas dota-nos de certos direitos naturais que devem ser protegidos pelo Governo. E para eles, o primeiro desses direitos era a liberdade religiosa. Garantiram este direito na Primeira Emenda, e chamaram-lhe “livre exercício da religião”. Durante dois séculos foi conhecida como a “primeira liberdade” da América.
Não se pode sobrestimar a importância desta primeira liberdade para a nossa nação e para o mundo. A forma como os fundadores lidaram com a religião e com a liberdade religiosa não só não tinha precedente, como foi um ponto de viragem no reconhecimento da dignidade humana para toda a gente.
Nenhuma outra nação, antes ou depois, protegeu desta forma a liberdade religiosa para todos os seus cidadãos. Nenhuma outra nação justificou o seu compromisso com a liberdade religiosa de uma forma que se aplica a todos os seres humanos – um direito inalienável dado por Deus, e não pelo Estado. Nenhuma outra sociedade elevou a liberdade religiosa ao estatuto de primeira liberdade, sobre a qual todas as outras liberdades assentam.
Infelizmente, na América de hoje, a liberdade religiosa já não é ensinada nas nossas escolas, nem valorizada nas nossas instituições culturais. Pelo contrário, é muitas vezes vilipendiada e repudiada. O vil flagelo do antissemitismo corre descontrolado nas universidades americanas. São tempos difíceis.
Claro que a protecção da liberdade religiosa na América nunca foi perfeita, mas os benefícios têm sido extraordinários. Aqui estão apenas alguns exemplos que têm sido reconhecidos pela maioria dos americanos como grandes contributos para a nossa nação… pelo menos até há pouco tempo.
Em primeiro lugar, até há pouco tempo, a liberdade religiosa era entendida como tendo produzido a sociedade civil assente na fé mais compassiva da história, com milhares de organizações religiosas a fornecer cuidados para pessoas em necessidade: crianças abandonadas, os pobres, os doentes, os idosos, os moribundos e vítimas de desastres naturais.
A Samaritan’s Purse, as Irmazinhas dos Pobres e incontáveis outras organizações religiosas trabalham incansavelmente para cuidar dos outros. Hoje, estes grupos são cada vez mais desprezados, e enfrentam processos atrás de processos. Porquê? Porque defendem uma moral tradicional e porque o seu amor por Deus os inspira a obedecer-lhe a Ele, e não a César.
Em segundo lugar, até há pouco tempo a liberdade religiosa protegia os direitos de crentes tradicionais que se recusavam a abandonar a verdade sobre a natureza humana – que homens e mulheres são belos na sua diferença e complementaridade, que o casamento é a união entre um homem e uma mulher, que o nascituro é um ser humano e que os pais, e não o Estado, têm autoridade natural sobre os seus filhos.
Hoje, estas posições são criticadas na política, nas escolas e nas empresas. Militantes pró-vida são enviados para a prisão. Nega-se aos pais o direito a saber se os seus filhos querem fazer um aborto ou mudar de sexo. Quem acredita no casamento e sexualidade humana tradicionais deve permanecer em silêncio, ou arriscar perder a carreira.
Em terceiro lugar, até há pouco tempo, a liberdade religiosa incluía aquilo a que o jurista Michael McConnell chama “argumentos religiosos” na política. Os argumentos religiosos têm produzido as reformas mais consequentes da história da América. A abolição da escravatura, o sufrágio das mulheres, o movimento pelos direitos civis e o direito à vida. Hoje, os argumentos religiosos menos populares são rejeitados como discurso de ódio inconstitucional.
Em quarto lugar, até há pouco tempo, a liberdade religiosa ajudava os americanos a rejeitar a mentira de que somos meramente seres materiais que devem viver para si mesmos, procurando a gratificação pessoal, porque nada mais existe. Ninguém que acredita em Deus pode acreditar nessa mentira, mas infelizmente demasiados americanos fazem-no, o que conduz a solidão, desespero, toxicodependência e suicídio por desespero.
Aquilo que aconteceu à nossa primeira liberdade, sobretudo os direitos das pessoas com valores mais tradicionais, que tanto contribuíram para a nossa nação? As suas crenças religiosas são retratadas como odiosas e a liberdade religiosa como uma fachada para xenófobos, racistas e teocratas. Esta calúnia implantou-se em todas as nossas instituições – as escolas, os media, a grande tecnologia, a indústria de desporto e entretenimento, a classe médica, a política externa e até as Forças Armadas.

Trata-se de uma ameaça não só para os crentes, mas para a Constituição, e para o papel único da América no mundo. Os resultados da mais recente eleição podem melhorar ligeiramente a situação, mas a mudança política não chega para a derrotar, está demasiado enraizada nas nossas instituições culturais.
O que será da América se as nossas instituições continuarem a difamar e a silenciar a religião moralmente tradicional? Qual será a consequência de a América abandonar a sua posição como único verdadeiro defensor da liberdade religiosa para si e para o mundo?
A América já não será a América. Estamos agora a assistir a essa transformação ruinosa. Não devemos ficar em silêncio.
Vou terminar com uma história familiar, mas com um final inesperado.
No dia 11 de Setembro de 2001, Todd Beamer estava abordo do Voo 93 quando os terroristas tomaram conta do avião. O Todd soube por uma operadora de telefone chamada Lisa que as Torres Gémeas e o Pentágono tinham sido atacados, e que os terroristas estavam a conduzir o seu avião para Washington para destruir ou a Casa Branca, ou o Capitólio.
Todd disse a Lisa que ele e outros passageiros iam tentar dominar os terroristas e recuperar o controlo do avião. Depois a Lisa ouviu o Todd a exortar os seus co-passageiros: “Preparem-se… Vamos a isso”. O voo 93 despenhou-se num descampado na Pensilvânia, matando todos a bordo, mas salvando incontáveis vidas.
Todd tinha pedido a Lisa que ligasse à sua mulher e dizer-lhe que a amava, e aos seus filhos que se orgulhava deles. Depois Todd pediu a Lisa que rezasse com ele. Juntos, rezaram o Salmo 23 e o Pai Nosso. Sentiu-se confortado pela garantia do salmista de que nada deveria temer ao entrar “no vale da morte”.
No Pai Nosso, Todd pediu a Deus que lhe perdoasse os pecados, e que o ajudasse a perdoar. Pediu a Deus que livrasse do mal a sua família, os seus vizinhos e o seu país. Terminou proclamando, como fizera tantas vezes, que o poder e a glória pertencem apenas a Deus.
A coragem de Todd Beamer diante da morte foi formada pela sua fé. As suas acções são um exemplo do livre exercício da religião. Revelaram sacrifício diante do perigo, altruísmo diante da necessidade extrema, perdão para os que pretendiam fazer-lhe mal e unidade com todos os americanos de boa-vontade – cristãos, judeus, muçulmanos, crentes ou não crentes, democratas ou republicanos.
Estas são as fontes da grandeza americana. São nutridas e protegidas pela liberdade religiosa de que todos os americanos gozam. Mas essa preciosa liberdade está em grande perigo. Como diria o Todd Beamer, caso estivesse aqui:
“Estão prontos? Vamos a isso.”
Thomas Farr foi o primeiro director do Gabinete de Liberdade Religiosa Internacional do Depastamento de Estado (1999-2003). Foi co-fundador e é presidente emérito da Religious Freedom Institute e está a escrever um livro sobre o dom da liberdade religiosa na América.
Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024)
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