As taxas de natalidade estão em queda. Em todo o mundo as sociedades estão a falhar na obrigação mais fundamental de qualquer civilização. O problema é mais grave no mundo desenvolvido, mas está longe de se limitar às nações mais ricas.
Os problemas económicos associados à queda da fertilidade têm sido alvo de muita preocupação por parte de economistas e políticos, mas soluções simples continuam a faltar. Os países que mantêm as suas populações (e, por isso, a produtividade económica) através da emigração em massa podem estar a adiar algumas das consequências económicas, mas à custa da criação de toda uma outra série de dificuldades sociais, culturais e políticas.
Ross Douthat comentou recentemente que é verdadeiramente estranho estarmos numa posição em que os especialistas em todo o mundo procuram formas de encorajar as pessoas a voltar a ter bebés.
Ao longo de toda a história – até ontem – as leis, costumes e morais em torno do sexo e do casamento preocupavam-se quase exclusivamente em restringir uma das vontades mais poderosas e fundamentais das espécies. Hoje, o desafio é o contrário e os fazedores de políticas estão desesperadamente a tentar descobrir que mistura de incentivos e encorajamentos podem vir a induzir os seus cidadãos a ter mais filhos.
Há certos factores que estão obviamente associados ao colapso de taxas de fertilidade. A disponibilidade quase universal de métodos contracetivos e os níveis industriais de aborto saltam à vista.
Mas há também factores menos malignos que possam contribuir para o declínio dos nascimentos. No seu livro Family Unfriendly, publicado recentemente, Timothy P. Carney aponta para algumas das formas como a nossa cultura involuntariamente dificulta a vida a pais que estejam a criar os seus filhos. Desde as leis de ordenamento territorial, políticas de habitação, regulamentos sobre assentos nos automóveis e as exigências cada vez maiores (tanto em tempo como em dinheiro) dos desportos juvenis, ultracompetitivos.
A retirada de alguma pressão sobre os pais – uma saudável descida das expectativas para aquilo que constitui “sucesso” – pode ajudar os pais, ou futuros pais, a recordar que a criação da próxima geração pode e deve ser uma vocação profundamente enriquecedora e alegre. Sem grandes surpresas, a fé, família e comunidades locais fortes são factores significantes nas propostas e na análise de Carney.
Noutro livro publicado recentemente, Hannah’s Children, Catherine Pakaluk entrevista mães de famílias numerosas para melhor compreender o que há na vida destas mulheres que as torna resistentes à tendência das baixas taxas de natalidade. É assim que ela resuma a sua principal conclusão:
Os testemunhos nesta obra, dados por mulheres de todos os níveis de compromisso com o trabalho assalariado, sugerem que olhemos para a força e a vitalidade das comunidades religiosas vivas. É no templo que encontramos as razões do coração que justificam os sacrifícios pessoais fundamentais associados a ter mais do que um ou dois filhos.
As taxas de natalidade estão em queda, não apenas por causa de pressões económicas de decisões políticas, mas porque os futuros pais já não acreditam que criar filhos seja um esforço que valha a pena. De uma perspectiva mundana, estão simplesmente a decidir que os custos e o trabalho de ter filhos não compensam. Mas diante de um horizonte mais alargado – um horizonte transcendente e religioso – tudo isto muda.
Quando o homem perde todo o sentido de transcendência, perde também a apreciação própria pelos bens naturais. Acontece que quando nós, homens, viramos as costas a Deus, toda a criação – até a parte da criação que chamamos “humana” – começa a esvanecer-se e a perder o significado. Carney chama a este fenómeno “tristeza civilizacional”.
Pode ser reconfortante pensar que por mais que as coisas estejam difíceis “lá fora”, no “mundo secular”, aqueles de nós que estamos enraizados em comunidades religiosas podemos ser poupados ao tédio espiritual e lassidão moral que parecem acompanhar e conduzir este fenómeno.
Mas isso seria um erro.
Em primeiro lugar, as consequências sociais, económicas e políticas de décadas de queda de taxas de natalidade afectarão até as comunidades religiosas mais devotas e insulares. Os fiéis podem não ser “do mundo”, mas estão necessariamente e inevitavelmente “no mundo”.
Em segundo lugar, embora as comunidades religiosas compactas e unidas possam fornecer alguma resistência às quedas de taxas de casamento e de constituição de família, se perguntar a um católico solteiro com menos de, digamos, 45 anos, ele dirá que o mundo do namoro católico está um descalabro. “Desesperante” é um descritivo comum.
Cada vez mais católicos solteiros estão a recorrer a aplicações de encontros, não obstante dizerem-se exasperados com as mesmas. Cada vez menos estão a conhecer potenciais pares em pessoa, sobretudo no tipo de ambiente social relaxado que permite que as pessoas se conheçam ao longo do tempo.
Há muito que descartámos os rituais de cortejamento e as expectativas sociais sobre como uma “senhora” e um “cavalheiro” se devem comportar na companhia uns dos outros. Não estou apenas a falar de moral sexual, mas das mais básicas boas-maneiras. O resultado é que os rapazes e raparigas são deixados a navegar os encontros sociais (do género que já são dados a ser bastante incómodos) sem qualquer orientação ou expectativas comuns sobre como agir uns com os outros.
Imaginem só ter de reinventar as convenções sociais do zero cada vez que conhecem uma pessoa nova!
A quebra actual do ambiente de namoro e casamento entre católicos devotos hoje em dia não se explica simplesmente pela perda do sentido de transcendência. Estamos a falar de pessoas que compreendem o casamento quer como vocação e como sacramento, que rezam devotamente e que anseiam poder ter filhos e famílias próprias. Estão na missa todos os domingos. O que é que a Igreja pode fazer para os ajudar?
Uma resposta parcial pode encontrar-se no conselho que o meu tio deu uma vez a um jovem católico que estava apostado em encontrar uma esposa. “Estás em busca de alguém com quem casar”, disse ele, “mas o que devias era estar à procura de alguém com quem dançar”.
Há grande sabedoria nessas palavras.
A mais belamente articulada teologia do casamento serve de pouco a alguém que nem consegue arranjar alguém com quem sair. A Igreja deve, de todos os modos, continuar a ensinar a verdade sobre o casamento e a família, mas no que toca a todos os solteiros católicos que já sabem a parte teológica de trás para a frente, podemos simplesmente começar por ajudá-los a encontrar alguém com quem dançar.
A graça edifica-se sobre a natureza; podemos começar por dar à natureza uma chance.
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The Catholic Thing na quinta-feira, 8 de Agosto de 2024)
© 2024 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.