Há alguns meses estive num jantar onde estava também o Patriarca D. Rui Valério. A dada altura, alguém à mesa disse ao Patriarca que nós estávamos ao seu serviço, e que se ele precisasse de alguma coisa, que nos pedisse.
Sem hesitar, o D. Rui Valério exclamou: “Arranjam-me bispos auxiliares?”
Não posso dizer que foi por nossa influência, mas hoje finalmente esse desejo realizou-se.
O Papa nomeou para bispos auxiliares de Lisboa os cónegos Alexandre Palma, 45 anos, e Nuno Isidro, 59. Serão uma preciosa ajuda para um Patriarca que até agora estava praticamente sozinho à frente do Patriarcado e, também, ainda como Vigário Apostólico da Diocese das Forças Armadas. A ajudá-lo tinha apenas o D. Joaquim Mendes, que já ultrapassou os 75 anos, altura em que os bispos apresentam obrigatoriamente a sua renúncia ao Papa.
Os dois novos bispos estão ambos ligados ao Seminário dos Olivais, e não à pastoral paroquial. Nesse sentido, mantém-se uma certa tradição em Lisboa de nomear bispos mais do campo administrativo ou académico. Tradição, aliás, quebrada com a nomeação do próprio D. Rui Valério, que originalmente não é do Patriarcado de Lisboa, embora tenha servido alguns anos como pároco. Pode entender-se assim esta nomeação de dois homens mais “do sistema” como uma forma de equilibrar e dar força à cúpula da diocese. O Patriarca fica com dois auxiliares que conhecem bem o Patriarcado há muitos anos e o podem ajudar certamente na sua administração.
O cónego Alexandre Palma, para além do seu trabalho como prefeito do Seminário, está muito envolvido no mundo académico, sendo um dos nomes mais sonantes da teologia em Portugal neste momento, ligado à Universidade Católica Portuguesa. Foi ainda nomeado recentemente para presidir à Fundação JMJ, o que lhe dá a responsabilidade de supervisionar a distribuição dos lucros daquele evento ao longo dos próximos anos. Note-se que, de acordo com o que consegui averiguar com a ajuda do sempre atento Rui Almeida, ele será o quarto bispo da Igreja latina mais novo do mundo.
Já o cónego Nuno Isidro é director espiritual do mesmo Seminário dos Olivais, e também Vigário Geral do Patriarcado, o que faz dele, de certa forma, o actual braço direito do Patriarca na administração da Igreja em Lisboa. Nesse sentido a sua nomeação dá também uma certa continuidade.
Não conheço pessoalmente o cónego Nuno Isidro, mas conheço muito bem o cónego Alexandre que para além de ser um homem intelectualmente brilhante é de uma enorme simplicidade. Nesse sentido, tem o “cheiro a ovelhas” que tanto pede o Papa Francisco, apesar de não ter grande experiência paroquial.
O cónego Nuno Isidro tem a grande vantagem de ser um homem do Oeste do Patriarcado, uma zona que tem um grande peso na Igreja de Lisboa, enquanto Alexandre Palma é mais citadino. Esse conhecimento e essa identificação com o oeste será uma ajuda fundamental para o Patriarca. Mas igualmente importante é o facto de o cónego Nuno Isidro conhecer profundamente toda a dinâmica do Patriarcado, todos os padres, todos os problemas e dificuldades. Diz-me quem o conhece que será certamente o homem de mão do Patriarca para a resolução de crises que possam surgir, e que infelizmente surgem sempre.
O que é também muito importante de assinalar é o facto de os dois, Alexandre Palma e Nuno Isidro se conhecerem já muito bem, tendo trabalhado juntos há cerca de uma década no Seminário dos Olivais. Tendo feitios e qualidades muito diferentes, dão-se muito bem e complementam-se. Nesse sentido, pode dizer-se que esta nomeação forma um conjunto, mais do que duas nomeações individuais apresentadas no mesmo dia. São ainda dois homens da confiança de D. Manuel Clemente, o que demonstra uma vontade de imprimir um selo de continuação entre D. Rui Valério e o seu antecessor e é, de certa forma, um elogio ao anterior Patriarca.
Tudo isto parecem ser excelentes notícias para o Patriarcado de Lisboa. Rezemos agora por estes novos bispos e por todo o trabalho e desafios que têm pela frente.