
Estamos no pico do verão. Aqui nos subúrbios de Virgínia, em Washington, onde eu vivo, o calor e a humidade atingem-nos com toda a força mesmo na altura em que muitos de nós partimos para as férias do verão.
Um dos problemas de sair da cidade no verão é que as ervas daninhas crescem melhor quando não estamos a ver. Um jardim ou relvado imaculado tende a transformar-se numa selva primordial depois de apenas uma ou duas semanas de abandono.
Ainda assim, é sempre bom sair com a família para uma ou duas semanas de descanso e relaxamento. Nós tivemos a sorte de poder passar cinco dias nos areais do Lago Michigan, onde os pores-do-sol são gloriosos e sopra uma brisa suave e fresca à noite. É o tipo de sítio onde se dorme de janela aberta mesmo no final de Julho e onde a decisão mais difícil do dia é saber se devemos acompanhar o nosso Martini com uma azeitona ou uma casca de limão.
Mesmo as melhores férias eventualmente chegam ao fim. As exigências da vida comum chamam por nós. Não tarda muito até que aquela questão que temos no nosso subconsciente – quantos emails é que terei por ler na minha caixa de entrada? – se apresenta com toda a força, perturbando a nossa paz de espírito e roubando à areia, ao sol e até ao gin os seus charmes. Para além disso, a escola recomeça em breve, e as ervas daninhas estarão a fazer das suas.
Mais cedo ou mais tarde, temos de nos voltar para o que vem a seguir, depois do descanso e do rejuvenescimento das férias.
O que me leva à solenidade que a Igreja assinalou a semana passada, da Transfiguração.
Não é todos os dias que o véu do mundo é levantado e a glória de Deus se torna visível aos olhos humanos. Ocasionalmente temos direito a indícios ou murmúrios, como na glória de um belo pôr-do-sol, ou a vista de uma montanha, que servem de analogia para a glória do Criador.
Muitos de nós experimentam, embora raramente, momentos de graça intensa e profunda. É certamente o meu caso. São momentos que podem ser completamente transformadores, mas que não duram. Como disse São Paulo (que também tinha feito essas experiências), “agora vemos como que através de um vidro, de forma escura; mas mais tarde veremos face a face”. Dependemos da fé para experimentar aquilo que os nossos sentidos não nos dizem: “Praestet fides supplementum sensum defectui”.
No topo daquele monte, Pedro, Tiago e João viram. Lá puderam contemplar Jesus, na sua glória, a conversar com Moisés e Elias. E Pedro, sendo Pedro, quis permanecer no monte. Ele não quis perder de vista aquela cena. Santo Agostinho, no seu estilo inimitável, captura o estado de espírito de Pedro:

Pedro vê isto e, como homem que contempla os prazeres mundanos, diz: “Senhor, é bom estarmos aqui.” Tinha-se cansado da multidão e agora encontrara no monte a solidão; ali tinha Cristo, o Pão da alma. Como então partir dali novamente para o trabalho e dores…? Ele quis para si o bem; e acrescentou: “Se quiseres, façamos aqui três tabernáculos: um para Ti, um para Moisés e um para Elias.” O Senhor nada lhe respondeu; contudo, Pedro teve resposta. “Pois, enquanto ainda falava, uma nuvem luminosa os envolveu e os abrigou.” Ele desejava três tabernáculos; a resposta celeste mostrava-lhe que há Um só, que o julgamento humano queria dividir. Cristo, a Palavra de Deus — a Palavra de Deus na Lei, a Palavra nos Profetas.
Continua St. Agostinho, agora como se tivesse a apelar a Pedro:
Desce, Pedro: tu desejavas descansar no monte; desce, “prega a palavra, sê instantâneo a tempo e fora de tempo, chama à atenção, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”. Suporta, trabalha arduamente, suporta a tua medida de tortura; para que possuas o que significam as vestes brancas do Senhor, por meio do brilho e da beleza de um trabalho reto na caridade.
Não. Eles não permaneceriam no monte. Tinham visto Cristo transfigurado, envolto na nuvem de glória e tinham ouvido a voz do Pai. “Este é o meu filho, o meu eleito, escutai-o”. Mas o momento de graça tinha terminado. Tinha-lhes sido dado para os fortalecer para o que viria.
Jesus, Pedro, Tiago e João desceram do monte para descobrir que os outros discípulos tinham falhado um exorcismo. Depois começou uma discussão entre os discípulos sobre quem era o maior de entre eles. Depois começaram a queixar-se de que alguém, que não andava com eles, estava a expulsar demónios em nome de Jesus.
Em apenas cinco versículos, o Evangelho de Lucas leva-nos da glória do Monte Tabor para a exclamação exasperada de Jesus: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco e vos suportarei?”
Seja qual for a paz e a glória que testemunharam no topo do monte, por mais que desejassem permanecer naquele lugar, as “férias” tinham definitivamente acabado.
Quanto a Jesus, Lucas diz-nos que ele “decidiu resolutamente partir para Jerusalém”. No sentido literal, “voltou a face” para Jerusalém. Era o fim do descanso. Jesus tinha emergido da nuvem, desceu da montanha.
Mesmo antes de subir ao Monte Tabor, Jesus disse aos seus discípulos: “Se alguém quiser seguir-me, deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz todos os dias, e seguir-me”. O Servo Sofredor fixou como pedra a sua face para a sua última viagem para Jerusalém. Lá ascendeu a um monte muito diferente, e revelou a sua glória de uma forma muito diferente.
E é nesse ponto que nos encontramos hoje, com o fim do verão à vista, na semana depois da Transfiguração: fixando as nossas caras para seguir o Senhor, em comitiva com Pedro, a descer da montanha, para que possamos ascender juntos.
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The Catholic Thing na quinta-feira, 7 de Agosto de 2025)
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