
Se nunca ouviu falar da Waymo, o serviço de táxi autónomo, está na altura de aprender, porque mais cedo ou mais tarde vai chegar ao seu bairro. Pode não ser agora, nem daqui a um ano, mas inevitavelmente chegará, tal como a morte e os impostos. A diferença é que é bastante mais divertido do que a morte e os impostos, a não ser que seja aquele tipo em 10 mil que fica preso num veículo de inteligência artificial com uma falha no software e que não pára de andar às voltas, nem o deixa sair, até que a bateria acabe. Mas nada é perfeito, não é?
Recentemente, quando fomos visitar a família do meu filho mais velho, eu e a minha mulher passeámos por São Francisco num táxi IA da Waymo. Foi tudo impecável, uma experiência verdadeiramente assinalável. A Waymo funciona mesmo. A boa notícia é que não estava ninguém ao volante para mudar as estações de rádio, raptar a nossa filha, praguejar no trânsito ou fantasiar sobre vingar-se daquele idiota no trabalho.
Mas essa é também a notícia assustadora. Não estava ninguém ao volante.
A Waymo é uma tecnologia revolucionária em forma embrionária. Actualmente opera em Phoenix, Los Angeles, São Francisco, Austin e Atlanta. Já há planos para Nova Iorque e Filadelfia, com Dallas, Miami e Washington previstos para o próximo ano.
É tentador pensar que alguns dos nossos líderes políticos mais irritantes poderiam desapareçam para sempre num táxi IA com mente própria, mas a probabilidade é extremamente baixa. O software dos veículos é demasiado fiável e melhora a cada dia. Mais, em breve teremos helicópteros táxis IA. E não estou a brincar. Se tem dúvidas, veja aqui e aqui. O que é que poderia correr mal numa viagem sob uma bateria gigante, sem piloto, a mil metros de altitude?
Mas há sempre um senão. O que a IA dá, a IA tira de volta. Todas as novas tecnologias, como Edward Turner já tinha avisado em “Why things bite back”, têm consequências inesperadas e frequentemente indesejadas. Ele não estava sozinho. Neil Postman utilizou o mesmo argumento na sua obra prima “Technopoly”. A inteligência artificial deveria tornar a vida em geral, e o trabalho em particular, mais fácil e agradável, libertando tempo para ocupações mais prazerosas, certo? Mas infelizmente, não é o caso.
Em meados de Julho o Wall Street Journal – um jornal que revela um entusiasmo quase maníaco pela IA – informou que, para o trabalhador médio, fazer mais trabalho, mais depressa, costuma traduzir-se em… trabalhar mais. Como admitiu um perito, “novas tecnologias que aceleram aspectos do trabalho intelectual tendem apenas a conduzir a trabalho intelectual mais acelerado.” A mesma reportagem notava que “os verdadeiros beneficiários [da inteligência artificial no local de trabalho] serão provavelmente as empresas que procuram retirar mais produtividade” dos seus funcionários humanos.
Mas há mais. Ainda em Julho o mesmo jornal informou que a IA está a dar cabo de estágios de verão e cargos de entrada, geralmente preenchidos por recém-licenciados. O desemprego entre jovens adultos com uma licenciatura de quatro anos está a aumentar mais rapidamente do que entre aqueles que têm apenas o secundário ou um curso de dois anos. O resultado para os jovens é assustador, porque potencialmente conduzirá a um “realinhamento fundamental da estrutura da força laboral. À medida que as empresas contratam menos jovens, estarão também a diminuir o número de trabalhadores aptos para assumir mais responsabilidades daqui a cinco ou dez anos”.

O resultado do avanço da IA são cortes laborais. De acordo com o CEO da Ford Motor Company, Jim Farley, é provável que a IA acabe com cerca de metade dos empregos de colarinho branco nos Estados Unidos. “Os recém-licenciados”, diz o artigo do Wall Street Journal, “não só estão a competir por menos vagas, como estão também a competir contra jovens trabalhadores que foram recentemente despedidos”.
Mas tudo isto vem a propósito do quê? Só disto: Nunca somos tão inteligentes como pensamos, e raramente somos tão sábios como devíamos ser. Por isso a humildade pode ser um grande benefício, mas a humildade não é o ponto forte da nossa espécie.
Jesus Cristo era um tekton, termo do grego antigo que significa artesão, sobretudo ligado à carpintaria. Muitas, se não a maioria, das tecnologias são moralmente neutras. São ferramentas que usamos para bem ou mal; para criar beleza ou destruir vida. Aumentam a nossa capacidade de moldar o nosso ambiente, e isso pode ser uma coisa muito nobre.
É precisamente o que se passa com o meu filho mais novo, que tem trissomia 21 e tem acesso a oportunidades e de aprendizagem e de trabalho que simplesmente não existiam para pessoas com deficiências cognitivas há um século. O problema das ferramentas é que, ao utilizá-las, elas nos moldam também. Moldam como pensamos e como agimos. E quanto mais poder nos dão, mais tendem a encorajar a vaidade e a autoilusão.
Há precisamente cinco anos, no verão covídico de 2020, o Fórum Económico Mundial lançou uma iniciativa com o modesto título de “o Grande Reset”. O objectivo, segundo o meu motor de IA favorito, Perplexity, era de encorajar uma recuperação global e social que desse prioridade à sustentabilidade, equidade e resiliência.
Um mundo novo e muito melhor estava ao nosso alcance. E ferramentas milagrosas da Quarta Revolução Industrial – como a inteligência artificial e outras tecnologias digitais poderosas capazes de promover o crescimento mais verde e justo – ajudar-nos-iam a torná-lo realidade.
Os adeptos das teorias da conspiração criticaram logo a medida como uma tentativa das elites globais de alcançar o poder. Escusavam de se preocupar. Cinco anos mais tarde temos guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, selvajaria islamita contra cristãos em África, ódios políticos nos nossos países e desigualdades económicas e tensões a nível global. Ou seja, pouco mudou na realidade.
G.K. Chesterton perguntou certa vez: “O que está mal com o mundo de hoje?”, respondendo: “Eu”. O que está mal com o mundo sou eu. O que está mal com o mundo somos nós. A Waymo, IA e todos os outros feitos incríveis da criatura a que chamamos “humano” elogiam a nossa inteligência e confirmam a nossa dignidade. Mas não alteram aquilo que somos. No final de contas, o que está errado com o mundo somos nós. O único “Grande Reset” que interessa é a conversão dos nossos próprios corações.
Francis X. Maier é investigador senior em Estudos católicos no Ethics and Public Policy Center. O seu mais recente livro é True Confessions: Voices of Faith from a Life in the Church .
Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na sexta-feira, 6 de Agosto de 2025)
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