
Admito que no Domingo da Divina Misericórdia, quando devia ter estado a rezar: “Jesus, eu confio em ti”, estava antes a preocupar-me com o conclave e com quem seria o próximo Papa. Elaborei uma lista mental dos cardeais que eu gostaria de ver de branco e uma segunda lista, mais preocupante, com aqueles a quem o branco pontifício não ficaria tão bem, como se a minha opinião contasse para alguma coisa.
Entretanto os cardeais da nossa Santa Igreja Católica falaram e o Cardeal Robert Prevost é o Papa Leão XIV.
Estamos agora no momento de analisar o pensamento dos cardeais e o escrutínio de cada pedacinho do tempo que o Papa passou na loggia de São Pedro – o nome, a mozeta, o texto preparado, as línguas que falou, as próprias palavras que pronunciou e as emoções que demonstrou. Procuramos um programa, uma agenda, um vislumbre do que o novo Papa vai fazer, os desafios a que dará prioridade.
Tal como percebi nesse Domingo da Misericórdia, e mais ainda à medida que recuperamos do excitamento do anúncio do novo Papa, creio que nós homens nos preocupamos com as coisas erradas, porque Deus não pensa assim.
A imagem do Senhor Jesus a dormir na barca que é a Igreja em dificuldades perdurou pelos anos, sendo até mais antiga que a velha piada de que só a providência divina explica como é que a Igreja sobreviveu à inépcia dos seus líderes. Muitos dos sucessores de São Pedro contribuíram para esta narrativa com a sua incompetência grosseira, a sua preguiça, luxúria, ganância e até mesmo malícia.
É, por isso, justo perguntar: Estará Deus tão preocupado com aquilo que achamos ser as necessidades prementes da Igreja, dados todos os pecados que tem permitido que fossem cometidos pelos seus vigários na terra?
Vale a pena ponderar este ponto enquanto acolhemos com filial reverência o nosso novo Santo Padre. Esta questão, que é uma pequena variação do constante problema do mal, recorda-nos que Deus nem sempre nos dá aquilo que queremos, neste caso uma navegação tranquila da Barca de São Pedro. Antes, ele dá-nos aquilo de que precisamos para a nossa salvação, e muitas vezes isso implica ter de aguentar as provas de infidelidade e sofrer os males infligidos por outros. Nosso Senhor também os suportou na Cruz, que foi a forma curiosa como Deus alcançou o bem maior da nossa redenção.
Muitas vezes, porém, precisamos de lentes poderosas para conseguir discernir o bem que advém das falhas humanas na Igreja. Onde está o bem no grande cisma que dividiu o Cristianismo do Oriente e do Ocidente? Ou nos pontificados de Avinhão? Ou na chamada Reforma? Os debates teológicos durante o pontificado de Francisco? Ou aqui mais perto de nós, onde está o bem quando um pastor negligencia, ou pior, abusa do seu rebanho? Ou quando um professor de uma escola católica promove a imoralidade e a heresia?
Por entre estes males aprendemos uma lição bem dura: Só Deus é bom. Dependemos dele e da sua graça fluindo através da Igreja e dos seus ramos. Nada mais. Nem mesmo do correcto funcionamento do Corpo de Cristo, pelo qual devíamos trabalhar e rezar, depende a providência de Deus.

Às vezes Deus nos dá um Papa – ou bispo, ou pastor, ou professor – cuja santidade e liderança nos inspira, consola e ajuda a crescer na fé. É por isto que rezamos agora que Leão XIV dá início ao seu pontificado. Mas quando a navegação é tranquila há outro perigo à espreita: o perigo de adormecermos ao leme, de ficarmos demasiado dependentes do pastor para fazer aquilo que Deus quer que faça cada um de nós: amá-lo acima de todas as coisas e levar o Evangelho a cada pessoa com quem nos cruzamos.
A Esperança da nossa salvação não depende de príncipes, nem mesmo dos eclesiásticos, mas do Senhor. Claro que aquilo que o Papa diz e faz é da maior importância, mas o seu programa particular, ou as suas preferências pessoais – o facto de ser um grande líder ou uma pessoa tímida, sábio ou tolo, pacífico ou conflituoso – em nada altera a nossa vocação enquanto católicos baptizados para levar o Evangelho aos quatro cantos do mundo.
É fácil esquecer isto durante a pompa e a cerimónia de uma eleição papal. E ainda que admitamos que este é um dos eventos mais emocionantes que ainda existe no mundo moderno, o Papa continua a não ser o cume nem a fonte da vida católica. Esse lugar pertence a Deus. Faça o que fizer no futuro, o Papa Leão XIV não mudará, nem pode mudar, a missão que cada um de nós tem enquanto filhos baptizados de Deus.
O pontificado é de Cristo, independentemente do que o novo Papa faz – e pode-se dizer o mesmo dos seus antecessores e sucessores. Sim, amamos o nosso novo Santo Padre, mas um enfoque excessivo na sua pessoa e nas suas prioridades pode inquietar-nos porque constitui uma preocupação com coisas terrenas e não do alto.
Por isso, tendo observado com entusiasmo a loggia no dia da sua eleição, lembremo-nos, como nos exorta São Paulo, de olhar mais além para “procurar as coisas que estão acima, onde está Cristo, sentado à direita de Deus” (Col 3,1). É para nos conduzir a Cristo, afinal de contas, que o seu vigário existe.
David G. Bonagura, Jr. leciona no Seminário de São José, em Nova Iorque. É autor de Steadfast in Faith: Catholicism and the Challenges of Secularism, que será lançado no próximo inverno pela Cluny Media.
(Publicado pela primeira vez na quinta-feira, 8 de Maio de 2025 no The Catholic Thing)
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