Como qualquer pessoa que já cuidou de idosos lhe poderá dizer, não é bom ser velho e pobre neste país. O mesmo se deve aplicar a muitos outros lugares, mas o custo de ser idoso e pobre nos Estados Unidos rebenta com a escala. O preço de assistência minimamente decente pode variar (numa estimativa conservadora) entre os 5.000 e os 12.000 dólares por mês. Também não sei quantos idosos conseguem suportar o custo de 70.000 a 144.000 dólares por ano para renda e comida – e estamos a falar de um modesto T1 não mobilado, e de comida de comida feita numa instituição. Mas sei que ninguém quer ver as condições de vida de quem não consegue pagar esses valores.
Isto é das piores coisas que se têm feito aos idosos desde a “revolução da juventude” dos anos 60. Os idosos já não merecem o respeito mandatado nas Escrituras; pelo contrário, ser velho é cada vez mais como ter lepra. Colocamos os idosos em instituições, tal como costumávamos fazer com os leprosos “para seu bem”. São demasiado lentos, atrapalham, não têm nada de “novo” e de “excitante” para oferecer a uma cultura obcecada pelo “novo” e “excitante”. A sabedoria que vem com a idade e a experiência está “ultrapassada” e ninguém quer saber.
Perguntem a qualquer amigo que tenha tido o desafio de lidar com pais envelhecidos como resolveu esses problemas, e dirá que não o fez. Todos relatam, com a mesma tristeza, que é terrível. E é assustador também, porque qualquer dia seremos nós.
Há alguns anos o autor Gilbert Meilaender escreveu um artigo profundo com um título provocador: “Eu quero ser um fardo para a minha família”. Isto, bem sabia, corria em sentido contrário ao sentimento de prevalecente de “Eu não quero ser um fardo”. Mas existem poucas coisas mais pesadas, quando se lida com um idoso que precisa de ajuda, do que a sua insistência de que não quer ser um fardo. Esta teimosa insistência em manter toda a gente afastada torna tudo mil vezes mais difícil. Insistir que não se quer ser um fardo quando claramente precisa de ajuda é uma das coisas mais chatas que se pode fazer.
Escreve Meilaender:
Não será isto, em larga medida, o que significa pertencer-se a uma família? Sermos fardos uns para os outros e descobrir, quase que por milagre, que os ouros estão dispostos a, talvez até felizes por, carregar estes fardos? As famílias não teriam o significado que têm para nós se não nos dessem, de facto, direitos uns sobre os outros. Haja pelo menos esta esfera da nossa vida em que não nos associamos apenas como indivíduos autónomos de forma contratual. Antes, damos simplesmente por nós no mesmo barco, solicitados a partilhar os fardos da vida enquanto aprendemos a cuidar uns dos outros.
Insistir que não se quer ser um, escreve Meilander, é muitas vezes uma “tentativa de último recurso para contornar a interdependência da vida humana, segundo a qual simplesmente somos, e devemos ser, um fardo para quem nos ama”. O amor implica o fardo. Não existe forma de amar e de ser amado sem ele. Essa é uma das lições da Cruz.
Em minha opinião, um dos melhores documentos alguma vez publicado pela Conferência Episcopal Americana é “Fidelidade para a vida: Uma Reflexão Moral”, que faz o seguinte comentário sobre a parábola do Bom Samaritano. “Estamos todos a caminhar de Jericó até Belém, e esta história assombra-nos, porque contradiz directamente a ideia tão partilhada hoje em dia, de que as nossas lealdades e obrigações são devidas apenas àqueles que nós escolhemos. Pelo contrário, devemos fidelidade aos que escolhemos e, para além desses, aos que não escolhemos. Nos é que fomos escolhidos – para nos desviarmos e ir ao encontro deles.”
Jesus contou esta parábola em resposta à pergunta: “Quem é o meu próximo?”. Depois de contar a história do Samaritano que procura ajudar um estranho, pergunta: “Quem foi o próximo daquele homem?” Geralmente assumimos que está a perguntar quem foi o próximo do judeu meio-morto que tinha sido assaltado. A resposta, nesse caso, é o samaritano. Mas se virarmos a pergunta ao contrário, como: “Quem foi o próximo do samaritano?”, então a resposta passa a ser: “Qualquer pessoa que precisasse de ajuda”.
Consideremos as necessidades dos idosos. Como se lê em “Fidelidade para a Vida”, “o facto de qualquer pessoa doente poder pensar que o ‘suicídio assistido’ é a solução responsável, ou até expectável, para uma doença dolorosa, é uma condenação a uma sociedade que ama demasiadamente pouco alguns dos seus membros mais vulneráveis. Os doentes e os idosos podem ter de defender as suas vidas precisamente no momento das suas vidas em que estão mais fracos”.
Uma Igreja Católica verdadeiramente dedicada a opor-se à eutanásia faria tudo o que estivesse ao seu alcance para reverter estas tendências e ajudar as pessoas a enfrentar os desafios da idade. Tal como devemos ter uma visão mais abrangente do cuidado a prestar a mulheres e crianças se queremos lidar com os desafios do aborto, também o cuidado pelos idosos deve começar muito antes dos seus últimos dias. Basta passear por alguns lares de idosos para se compreender porque é que os seus utentes se sentiriam tentados a escolher uma resolução mais rápida e menos degradante, tal como algumas mulheres são tentadas a escolher uma resolução mais rápida e menos complicada para o problema de uma gravidez indesejada.
Não pode haver justiça social, respeito pela vida, ou cuidado para os pobres e idosos se a Igreja não batalhar vigorosamente contra a cultura do individualismo autónomo nas suas práticas e nas suas instituições educativas.
Como aconteceu no início com Adão e Eva, acontece agora. Se o fruto for suficientemente maduro e atraente, as pessoas serão tentadas a tomá-lo, ainda que comê-lo conduza à morte física e espiritual. Podemos encorajar as pessoas a “carregar as suas cruzes”, mas não devemos pedir-lhes que o façam sozinhas. Até Cristo teve Simão de Cirene para o ajudar a carregar a sua.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 26 de Novembro de 2024)
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