A semana passada a Igreja Católica dos Estados Unidos celebrou o seu décimo Congresso Eucarístico Nacional, o primeiro em trinta e oito anos. Chegou assim ao fim uma viagem sem precedentes na história da Igreja: a Peregrinação Eucarística Nacional, que culminou em Indianapolis, no congresso que terminou no domingo.
Na Vigília do Pentecostes, a 18 de Maio, quatro pequenas equipas de peregrinos partiram, respectivamente, da costa do Atlântico e do Pacífico, junto às fronteira do Canadá e do México, carregando Nosso Senhor na Eucaristia rumo a Indianapolis.
Fazendo estes percursos, estávamos, no fundo, a traçar um sinal da Cruz, como se de uma bênção eucarística se tratasse, ao longo do país, enquanto rezávamos pela Igreja, pela nação, e pelos milhares de intenções que nos foram sendo confiadas pelo caminho.
A Igreja Católica tem uma longa história de peregrinações a Jerusalém, Roma, Santiago de Compostela e outros locais sagrados. De igual modo, muitos já fizeram procissões eucarísticas, embora normalmente apenas dentro das fronteiras da paróquia ou ao dentro de cidades. Procissões ao longo de toda uma diocese são coisa rara.
Mas nunca na história da Igreja, nem sequer nas nações católicas da Europa, nos tempos áureos da piedade, os bispos de uma região pensaram, sequer, numa procissão eucarística através de um país inteiro. Aquilo que jamais tinha sido sonhado acaba de ser alcançado pela Igreja dos Estados Unidos, um país do tamanho de um continente.
A Peregrinação e o Congresso Eucarístico para o qual foi pensada, fazem ambos parte do grande Despertar Eucarístico Nacional, um esforço de três anos pensado para revigorar o conhecimento, a fé, a gratidão, o assombro, o amor e a vida eucarísticos entre os católicos dos Estados Unidos, depois de várias décadas de tendências preocupantes:
Cinco em seis católicos dão prioridade a outra coisa que não a recepção de Jesus Cristo no Dia do Senhor.
Sete em dez católicos já não conseguem identificar os ensinamentos católicos sobre a Eucaristia numa pergunta de resposta múltipla, sendo que a maioria pensa que a Eucaristia é pão e vinho, em vez de o próprio Cristo sacramentado.
Muitos dos que vivem vidas obstinadamente incoerentes com os ensinamentos de Cristo sentem-se no direito de O receber de qualquer maneira.
A maioria dos católicos simplesmente apresentam o escândalo de viver como toda a gente vive, apesar de professarmos que o mesmo Jesus Cristo que esteve no seio de Maria, a quem São José segurou nos seus braços fortes, que foi crucificado no Calvário, ressuscitou ao terceiro dia e está sentado à direita do Pai, está connosco no altar e no sacrário, embora com outra aparência.
O Despertar Eucarístico é uma tentativa muito corajosa e focada de responder a estas questões. Assenta sob vários pilares.
O primeiro é o de revigorar a adoração a Deus na Missa, para que em todo o lado, sempre, e em primeiro lugar se trate de um encontro verdadeiramente sagrado com Deus, através de uma comunhão com a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
O segundo é de promover a adoração Eucarística, uma vez que a Eucaristia não é uma coisa, mas sim Jesus Cristo, e por isso rezar diante dele, na sua presença sacramental, é a coisa mais importante que qualquer pessoa poderia fazer.
A terceira é de passar aos outros a nossa fé Eucarística com ardor e precisão, sendo que estamos metidos neste imbróglio sobretudo por causa de uma linguagem má e descuidada, e por maus exemplos.
E o último pilar é convidar as pessoas a regressar, uma por uma, com fervor missionário, para a grande Ceia, sabendo que Jesus Cristo, o Bom Pastor, não só deu a vida por cada ovelha perdida, mas dá-se a si mesmo todos os dias como o único alimento que julga ser digno das nossas almas.
Foi para mim um privilégio único poder ser capelão da Rota Seton desta peregrinação, que partiu de New Haven, atravessando o Connecticut, Nova Iorque, Nova Jérsia, Pensilvânia, Maryland, Virgínia Ocidental, Ohio e o sudeste do Indiana.
Viajei com o Senhor na Eucaristia ao longo de várias centenas de quilómetros a pé, bem como em barcos no Oceano Atlântico e nos rios Hudson e Ohio, e também em adoração numa carrinha especialmente equipada para ser uma capela de adoração ambulante.
Acompanharam-me pessoas verdadeiramente inspiradoras: Natalie Garza, uma professora de teologia do liceu de Kansas City, que fascina ouvintes de todas as idades com o seu testemunho; Dominic Carstens do Wisconson, recém formada pelo Wyoming Catholic College, que vi no mesmo dia deixar embasbacados reclusos, idosos em lares e jovens com as suas histórias poderosas; Zoe Dongas, uma cantora e actriz de voz angélica de Nashville, que teve de escolher entre manter o seu emprego (para a Igreja!) ou fazer a peregrinação, e corajosamente e fielmente manteve-se junto de Cristo; Marina Frattaroli, que se converteu recentemente à Igreja Católica e formada pelo Columbia Law School que, em vez de ficar a estudar intensivamente para o exame da ordem, preferiu dar prioridade a esta caminhada única com a pérola de grande preço; Amaryrani Higueldo, uma enfermeira do Filadélfia que regozijou em ser o “burrinho” no Domingo de Ramos, ajudando a levar Jesus para as cidades e vilas por onde passávamos; e Christoph Bernas, um seminarista do Pittsburgh, cuja alegria contagiante foi levedura não só para os peregrinos como para cada paróquia e comunidade que visitámos.
Todas as semanas fomos acompanhados por padres, irmãos, noviços e postulantes diferentes dos Frades Franciscanos da Renovação, cuja disponibilidade para fornecer “um hábito cinzento e sandálias” para acompanhar Jesus ao longo de cada passo pelo país tornou possível esta Peregrinação.
Também fomos abençoados pela presença de quatro irmãs das Filhas de Maria, Mãe de Cura e Amor, de New Hampshire, que trouxeram consigo alegria e um zelo apostólico extraordinário para cada procissão, correndo entusiasticamente para todos os que estavam a observar das periferias, explicando o que se estava a passar, ajudando-as a rezar enquanto Jesus passava e convidando-as a juntar-se à procissão.
Por fim, fomos acompanhados por duas mulheres na casa dos 60, a Beth Neer e a Jan Pierson, que deram dois meses das suas vidas para seguir tranquilamente o Cordeiro para todo o lado onde Ele foi e, tal como as mulheres que acompanharam Jesus e os apóstolos (Lucas 8,1-3) procuraram ajudar sempre que necessário.
Pelo caminho fizemos por demonstrar a verdadeira natureza da Igreja como “Igreja Peregrina sobre a terra”, enquanto Jesus na Eucaristia continua a convidar-nos a vir ter com Ele, para segui-lo, partir e proclamar o Evangelho, cientes de que, por meio da sua assombrosa doação na Santa Eucaristia, está sempre connosco até ao final dos tempos.
Roger J. Landry, é sacerdote na Diocese de Fall River, Massechussets, e foi nomeado pelo Papa como Missionário da Misericórdia, e assistente eclesiástico da fundação Ajuda à Igreja que Sofre nos EUA. É ainda Capelão Católico da Universidade de Columbia, em Nova Iorque. O seu livro, Plan of Life: Habits to Help You Grow Closer to God está disponível no Kindle.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no Domingo, 21 de Julho de 2024)
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