
O Papa Leão XIV juntou-se ao coro de pessoas que lamentam a implosão dos níveis globais de fertilidade. Falando depois de uma visita ao Presidente de Itália, o Papa exortou à acção para lidar com o colapso dos níveis da fertilidade. Foi particularmente encorajador ouvi-lo usar os nomes próprios para os membros da família: “pai, mãe, filho, filha, avô e avó. Estas são palavras que na tradição italiana naturalmente expressam e evocam sentimentos de amor, respeito e dedicação – por vezes heroica – para o bem da família e da comunidade, e, por conseguinte, de toda a sociedade”. Expressam ainda aquilo que é necessário para a procriação de uma forma que “progenitor 1” e “progenitor 2”, como agora são designados em vários países, não alcança.
As soluções para esta situação costumam focar-se em reformas sociais: licenças parentais, subsídios, cortes fiscais para famílias, creches, e por aí fora. E existem de facto elementos nas nossas estruturas socioeconómicas que militam contra as famílias. É bom que o Papa os tenha sublinhado. Mas acho que o enfoque deve estar noutro lado.
Como observou o seu antecessor São João Paulo II (fez 47 anos no dia 16 que foi eleito), a cultura está a montante quer da política como da economia. E a nossa “abençoada infertilidade” é uma questão cultural – tanto para a sociedade mais alargada como no seio da Igreja Católica. Como ele disse em Amor e Responsabilidade:
Nem no homem nem na mulher a afirmação do valor da pessoa pode ser divorciada da consciência e da aceitação voluntária de que ele pode vir a ser pai e ela pode vir a ser mãe (…) Se a possibilidade da paternidade for deliberadamente excluída das relações conjugais, o carácter da relação entre os parceiros muda automaticamente. A mudança é para longe da unificação no amor e na direção do “gozo” mútuo, ou melhor, bilateral.
As sociedades humanas sempre reconheceram que o casamento e a paternidade, embora distintos, costumam caminhar juntos. Por outras palavras, no decurso normal das coisas – salvo doença, idade avançada ou outros impedimentos – os esposos eventualmente tornam-se pais. Esta não é uma qualquer doutrina católica esotérica, mas sim uma realidade do direito natural que as sociedades humanas sempre reconheceram. É por isso que a procriação sempre foi entendida como normalmente relacionada com o casamento – pelo menos até ao aparecimento do oxímoro “casamento entre pessoas do mesmo sexo”.
Este facto do direito natural, porém, é elevado a um grau mais importante pelo ensinamento teológico católico. O Vaticano II ensinou que: “Os filhos são, sem dúvida, o maior dom do matrimónio e contribuem muito para o bem dos próprios pais” (Gaudium et Spes, #50). O Concílio afirmou ainda que a colaboração dos esposos com o Senhor através da paternidade faz parte da obra de Criação e Salvação de Deus. É por isso que a bênção nupcial no sacramento do matrimónio inclui uma invocação para que os esposos com idade para tal recebam “o dom dos filhos, sejam pais de virtude comprovada, e possam ver os filhos dos seus filhos”.
Agora pergunto: quando foi a última vez que ouviu um padre – ou até um bispo – a falar sobre estas coisas?
A nossa sociedade secular quebrou o nexo entre casamento e parentalidade, tratando este não tanto como uma “escolha”, mas como aquilo que o Arcebispo Michel Aupetit, emérito de Paris, chamou “projecto parental” – um elemento opcional do pacote identitário de duas pessoas, ajustado aos seus desejos e alcançado por qualquer meio que considerem adequado.
A tolerância geral para a paternidade fora do casamento, à maternidade de substituição, à adopção homossexual e semelhantes comprova o aceitamento cultural generalizado da ideia de que as crianças não estão necessariamente ligadas ao casamento e menos ainda de que a criança tem o direito a ser concebida, nascer e ser educada num contexto de casamento permanente.

Se duvida disso, pense como a afirmação sobre o direito da criança a viver num ambiente marital ressoaria aos ouvidos modernos.
Essa desconexão cultural generalizada manifesta-se agora dentro da Igreja. Os católicos imersos nesta anticultura dominante – que inalam os fumos tóxicos, por assim dizer, da sua visão social – precisam de ajuda para que não assimilem estas ideias por mera osmose. Mais uma vez, quando, numa paróquia normal, é que se ouve falar de questões como as relações sexuais fora do casamento ou as barrigas de aluguer? O silêncio sugere que a Igreja pensa que estes assuntos ou não são importantes, ou são demasiado comuns para serem mencionados. Nenhuma destas visões é verdadeira.
Por isso, embora a Igreja seja bem-vinda à luta por políticas sociais que protejam mais a parentalidade e a vida familiar no meio de pressões económicas que militam contra elas, o grosso do trabalho da Igreja é outro.
A missão da Igreja tem de ser a formação a longo prazo das mentes e dos corações, começando com as verdades básicas que gerações de católicos, noutros tempos, recebiam directamente dos seus pais, juntamente com o Pai Nosso e a Avé Maria:
- O casamento é uma parte normal, natural e boa da vida que espera a maioria dos adultos e que deve ser encorajada, sobretudo nas famílias e na Igreja.
- O casamento precede a parentalidade, mas a parentalidade flui do casamento.
- Embora sejam intelectualmente distintos, os dois conceitos não são normalmente separáveis.
A pessoa comum não deve pensar na parentalidade como um “extra opcional” no casamento. O padrão normal deve ser de que o casamento conduz à parentalidade e não de que a parentalidade precisa de ser justificada mesmo depois do casamento.
Dito de forma sucinta: o católico médio que não tenha uma vocação para o sacerdócio ou para a vida religiosa devia casar e depois constituir família.
Seria óptimo ver os representantes das Igrejas a pressionar os parlamentos e as legislaturas para criar apoios sociais que promovam o casamento, condizentes com as condições económicas actuais. Mas seria ainda melhor ver os nossos pastores – sobretudo os que sublinham a importância de cheirar a ovelhas – a começar a falar mais vezes, e de forma mais clara, sobre o casamento e a parentalidade.
Há uma razão pela qual o declínio populacional é hoje uma ameaça para várias nações. Se toda a cultura apontar para a infertilidade, o resultado será infertilidade. Chegou a altura de trilhar um rumo diferente, para bem das nossas sociedades e das nossas almas.
John Grondelski (Ph.D., Fordham) foi reitor da Faculdade de Teologia da Seton Hall University, South Orange, New Jersey. As opiniões expressas neste texto são apenas suas.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na segunda-feira, 16 de Outubro de 2025)
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