
Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E disse: “Diz ao povo de Israel, ‘Eu sou enviou-me a vós’”. (Êxodo 3,14)
Tenho nove anos. Vivo com a minha mãe e com o meu pai. O meu pai depositou o seu sémen num repositório médico numa clínica de Fertilização in Vitro (FIV) que depois foi usado para fertilizar cinco dos óvulos da minha mãe. Os médicos só me implantaram a mim no útero da minha mãe. Os meus irmãos e irmãs continuam congelados para possível implantação em data a determinar, seja no útero da minha mãe, seja no de outra, caso a minha mãe consinta. Eu sou um bebé FIV.
Tenho catorze anos. Vivo com a minha mãe. Do meu pai pouco sei, apenas conheço a sua composição genética. Ele depositou o seu sémen num repositório numa clínica FIV por 50 dólares. A sua semente foi usada para fertilizar os óvulos da minha mãe. Não sei se os meus irmãos ou as minhas irmãs ainda estão vivos, congelados em suspenso ou se foram descartados porque o seu ADN não estava à altura. Mas sei que eu sobrevivi porque os meus traços genéticos correspondiam aos padrões estabelecidos pelos técnicos, em consulta com a minha mãe. A minha mãe é membro activo da comunidade LGBTQ+. Sou um bebé FIV.
Tenho dezoito anos. Sou filha do meu avô. Ele chegou a casa certa noite, podre de bêbado, e violou a própria filha, minha mãe. Soube desse incidente quando comecei a namorar um rapaz atraente e descobri que é meu primo direito. Chorosa, a minha mãe confessou o incidente para evitar futuras complicações. Sou um bebé de incesto.
Tenho vinte-e-oito anos. A minha mãe foi vítima de violação. Os familiares e os médicos encorajaram-na a abortar-me, para evitar vergonhas. Ela recusou, levou-me a termo e pôs-me para adopção. Os meus pais adoptivos criaram-me como filho seu. Descobri a verdade quando fiz uma análise ADN, seguida de perguntas. Sou um bebé de violação.
Tenho trinta-e-cinco anos. A minha mãe era prostituta e morreu de overdose quando eu era nova. Não conheço o meu pai. Cresci em instituições de acolhimento e agora sou sem-abrigo, vivo na rua, ganho a vida a prostituir-me nos lugares menos seguros da cidade. Sou um bebé de prostituição.
Sou um bebé por nascer. Sinto o coração e o calor da minha mãe. Não a conheço, nem conheço o meu pai. Espero que a minha mãe me deseje, e o meu pai também. Mas um objecto afiado persegue-me nesta terrível clínica. Sou um bebé indesejado.
Sou um político pró-escolha. Todos os bebés por nascer são sub-humanos e dispensáveis. Sou de esquerda, mas às vezes sou de direita.

Sou um político anti-aborto. Conheço o meu eleitorado, e o meu eleitorado conhece-me. Considero a fertilização in vitro “pró-vida”. Permito excepções às leis do aborto em casos de incesto e de violação. A lógica dita, por isso, que eu acredito que os bebés FIV, bebés de incesto e bebés de violação são sub-humanos e dispensáveis. Sou o Presidente. Sou o primeiro-minisro. Sou o deputado típico de direita.
Sou a Virgem Santa Maria. Não existem bebés FIV. Não existem bebés de incesto. Não existem bebés de violação. Não existem bebés indesejados. Todos os bebés são criados por Deus à sua imagem e semelhança. Deus ama-os e deseja a sua felicidade agora, e no Céu. Eu amo-os como filhos meus. Amo as mães e os pais que abortam os seus filhos. Amo os criminosos que abusam da sua sexualidade. Amo os políticos e clérigos que negam aos meus filhos o direito à vida. Intercedo junto do meu Filho pela sua conversão e felicidade. Sou sua mãe. Eu sou a Imaculada Conceição.
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Tornei-me homem na concepção, no seio da minha mãe, quando ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor, seja feito segundo a sua vontade” (Lc 1,38). Nasci da Virgem Santa Maria pelo poder do Espírito Santo. Sofri e morri na Cruz pelos pecados do mundo. Pela minha ressurreição venci o pecado, o sofrimento e a morte. Amo santos e pecadores. Desejo a conversão e a salvação de todos. Amo-os e desejo o seu amor. Não existe pecado que eu não perdoe. Eu sou o Bom Pastor.
Eu sou o bebé por nascer. Sinto o coração e o calor da minha mãe. Não a conheço, mas partilho o seu sangue. Não conheço o meu pai, mas partilho a sua vida. Tenho nove meses para aprender se sou desejado por eles e por todos os políticos e médicos. Espero que a minha mãe me deseje. Espero que o meu pai me deseja. Espero que me desejem. Mas sei que Deus me deseja. Não sou um bebé indesejado, nem nunca serei.
Eu sou filho de Deus.
Jerry J. Pokorsky é padre na Diocese de Arlington. É pastor da paróquia de Santa Catarina de Sena, em Great Falls, Virgínia.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 11 de Março de 2025)
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