
Dizemos que “a oração é uma conversa com Deus”, mas isso não é inteiramente correcto. A oração a Deus é uma conversa com Deus. A oração a um santo é uma conversa com um santo. Por isso, é mais correcto dizer que a oração é uma conversa, e a palavra “prece” vem precisamente de uma das coisas que podemos fazer numa conversa, que é pedir (do latim precare).
Ser interlocutor numa conversa não é propriamente uma propriedade incomunicável da divindade. Logo, os protestantes cometem um erro grave quando acusam os católicos que rezam a Nossa Senhora de idolatria, simplesmente porque conversam com ela. Não existe qualquer razão pela qual Jesus seja a única pessoa no Céu com quem podemos ter uma “relação pessoal”. Na verdade, se os cristãos devem imitar Jesus, então devem também conversar com Maria, pois não o fazer é falhar dramaticamente no esforço de O imitar.
Presumo que os cristãos, e em particular os leigos, também devam imitar Jesus na sua “vida escondida” em casa, antes de ter começado o seu ministério público. Esses 30 anos representam 90% do seu tempo de vida, mas não sabemos quase nada sobre eles. Logo, devemos usar aquilo que conhecemos da natureza humana para poder inferir coisas sobre essa vida, uma vez que Ele era um “homem perfeito”. Sabemos, por exemplo, que Ele trabalhava. Logo, ao observar os melhores profissionais, podemos inferir algo sobre como trabalhava.
Os rapazes passam a vida a falar com as suas mães. Mas recuemos mais ainda. A vida de um recém-nascido começa com ele a olhar amorosamente para os olhos da sua mãe, enquanto se aconchega para mamar ao seu peito. O seu amor por ela, à medida que cresce, é simplesmente um desenvolvimento do “eu olho para ela, e ela para mim” original. Logo, se devemos imitar Cristo segue-se, com total lógica, que devemos encontrar formas de poder contemplar da mesma forma a face de Nossa Senhora. Talvez até juntamente com Ele, o que explica porque é que os cristãos sempre adoraram imagens de Virgem Maria com o seu Filho.
Talvez tenha reparado que para uma criança pequena o estar vivo passa muito por dizer à mãe o que está a pensar, de forma natural e espontânea. Este fenómeno, que tanto nos apraz, apenas se magnificaria num “homem perfeito” em relação à sua “tão amada mãe”. Logo segue-se, novamente com total lógica, que se vamos imitar correctamente Cristo, como seus filhos espirituais, devemos conversar espontaneamente com Maria ao longo do dia, partilhando com ela o que nos ocupa e preocupa.

Seria justo perguntar se não bastaria imitá-lo a este respeito fazendo o mesmo com a nossa própria mãe, ou talvez com a nossa esposa. Porém Cristo diz-nos “eis a tua mãe” (Jo 19,27) e sabemos que ela é “a mãe de Deus” (Lucas 1,43), e por isso parte da vida sobrenatural de que gozamos em Cristo. Portanto essa questão parece ficar resolvida.
Parece, também, que a imitação de Cristo num aspecto tão fundamental como este deva, pela sua própria natureza, estar sempre ao nosso alcance, e não depender da sobrevivência ou da proximidade de um parente.
Continuemos, então. À medida que um rapaz se torna homem, procura sempre a sua mãe quando está orgulhoso de alguma coisa para poder exultar, de forma sã, nisso mesmo. Se fosse um carpinteiro, por exemplo, gostaria de exibir à sua mãe as coisas belas que construiu na sua oficina. No filme “A Paixão do Cristo”, há uma cena credível em que vemos Jesus a fazê-lo com umas cadeiras e uma mesa.
Assim, ao longo do tempo, um jovem rapaz desenvolve com a sua mãe uma amizade genuína.
Alguma vez pensou porque é que Jesus ficou em casa até aos 30 anos? Naquele tempo não existia o conceito de adolescência. A partir dos 13 anos Ele já seria considerado um homem maduro. E Maria tinha família alargada, por isso ainda que José já tivesse morrido, Jesus poderia tê-la deixado ao cuidado de parentes. Não obstante o seu desejo ardente de dar início ao trabalho da redenção – “Eu vim lançar fogo à Terra e quem me dera que já estivesse a arder!” (Lucas 12,49) – Ele ficou com Maria ainda mais 15 anos do que seria necessário. Será que amava de tal forma a amizade que tinha com ela que ficou o máximo tempo possível, em vez de sair logo que podia?
E ainda não me referi a Jesus no ventre, a receber nutrição de Maria. Será que até aqui O podemos imitar? Muitos santos acreditaram e ensinaram que Nossa Senhora é um canal de onde escorre graça, como se do leite materno se tratasse. Como foi afirmado pelo Concílio Vaticano II, “a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira” (Lumen Gentium 62).
E podemos argumentar até que imitamos a criança no ventre imitando a mãe que o carrega, porque os dois são como um único ser vivo. Logo, instanciamos a relação de Jesus no ventre materno com a sua Mãe quando recebemos Jesus na Santa Eucaristia e o carregamos connosco, “com a mesma pureza, humildade e devoção com que a sua Santíssima Mãe o acolheu”.
Para imitar Cristo, então, devemos amar as imagens de Nossa Senhora e contemplá-las com amor; devemos conversar com ela espontaneamente, como uma criança que nela confia; devemos mostrar-lhe todas as coisas boas que alcançamos, para sua aprovação; devemos alimentar uma amizade com ela, e permanecer nela; e devemos consentir a que Nosso Senhor habite em nós.
Eu não conheço nenhum santo que nos ensine melhor a ser assim, a todos os níveis, do que São Juan Diego, que se encontrou com Maria durante a sua caminhada diária e dura para receber Nosso Senhor na Missa. Ele estimou a sua imagem, conversou com ela como com um amigo querido. E ainda há entre nós quem continue a conversar com Maria através da sua própria imitação de São Juan, incluindo o querido fundador do Santuário de Gaudalupe, o Cardeal Raymond Burke.
A imitação de Cristo não é uma abstracção, a sua verdadeira natureza humana torna-a real e palpável.
Michael Pakaluk, é um académico associado a Academia Pontifícia de São Tomás Aquino e professor da Busch School of Business and Economics, da Catholic University of America. Vive em Hyattsville, com a sua mulher Catherine e os seus oito filhos.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quinta-feira, 22 de Maio de 2025)
© 2025 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.