
Dei recentemente uma conferência num evento maravilhoso, organizado pela Sociedade Cardeal Newman, que juntou administradores de universidades católicas de todo o país.
Mais tarde alguém disse: “Se calhar falamos demais sobre a Eucaristia. É o Corpo e Sangue de Cristo. Vai à Missa. Mais nada”. Sim, é verdade, mas eu tinha 50 minutos para preencher.
Em vez disso, portanto, disse que as escolas católicas deviam ter uma mundivisão encarnacional, sacramental e eucarística. Se Deus criou o mundo e revela-se através da sua criação, então temos a possibilidade (como nos diz São Paulo) de vir a conhecer os atributos invisíveis de Deus através das coisas visíveis da criação e de dar graças, celebrar e regozijar nelas.
Tal como devemos ver a presença real de Cristo nos elementos terrenos da Eucaristia, o Verbo feito carne, também devemos ver, nos elementos terrenos da criação, a presença real do Verbo criador e da sabedoria de Deus.
Uma teologia semelhante da Encarnação e da sacramentalidade permite ao verbo e à sabedoria de Deus tornar-se carne na linguagem humana e, por extensão, presente e palpável sob a forma da escrita, como nas Escrituras. Assim, devemos aprender a ler tanto o Livro da Natureza como o Livro da Escritura, pois eles não são mutuamente exclusivos. Pelo contrário, no final de contas iluminam-se porque ambos têm o Deus único como autor.
Assim, numa educação autenticamente católica, todas as disciplinas devem estar presentes e efectivamente integradas. Esta foi a visão que inspirou o teólogo e santo Cardeal John Henry Newman, no século XVIII, quando escreveu o seu importante e influente livro “A Ideia de uma Universidade”, embora tenha resultado de uma visão que ele cultivava já há anos.
Por exemplo, num dos seus sermões iniciais escreveu:
Este é, então, objectivo da criação de universidades; reunir coisas que de início estavam unidas por Deus, mas que têm sido separadas pelo homem. Não me satisfaz, como satisfaz a outros tantos, ter dois sistemas independentes, intelectual e religioso, lado-a-lado, através de uma divisão de esforços, que apenas se juntam acidentalmente. Não me satisfaz que a religião esteja aqui e a ciência ali. Desejo para o intelecto a maior das liberdades, e uma liberdade igual para a religião, mas o que afirmo é que elas se devem encontrar num mesmo lugar, exemplificados nas mesmas pessoas. (Sermão I dos Sermões para Várias Ocasiões)
Esta passagem devia estar exposta de forma proeminente em todas as universidades católicas.
O que mais me toca nesta passagem é a imagem do casamento, a ideia de que ao montar uma universidade, o nosso objectivo devia ser de “reunir as coisas que de início estavam unidas por Deus, mas que têm sido separadas pelo homem”.

A regra em muitas universidades contemporâneas tem sido de insistir que os alunos se liguem a uma disciplina em detrimento de – ou talvez mesmo em exclusão de – todas as outras. Talvez não seja incorrecto dizer que o corpo docente e funcionários da universidade moderna são como crianças tornadas órfãs de um triste divórcio: um divórcio não apenas entre o conhecimento humano e a sabedoria divina, mas mesmo entre as disciplinas. A função de uma universidade cristã, então, é de fazer aquilo que a cultura secular não consegue: unir aquilo que o homem dividiu.
Mais tarde, um amigo recordou-me de uma coisa importante. “Não gosto quando tentamos promover a educação católica unicamente com base na ideia de que as universidades católicas são lugares de fé e ensinam as virtudes. Isso está bem, em certo sentido, mas devíamos estar a dizer aos alunos e aos seus pais que deviam vir estudar numa instituição católica porque lá podem obter uma verdadeira educação. Podem estudar matemática, física e biologia de verdade, e não as versões woke. Podem aprender história real, e não a versão do New York Times. Podem estudar os clássicos. Podem aprender a pensar e a raciocinar e avaliar argumentos importantes, em vez de levar apenas com propaganda pós-liberal.”
As instituições católicas não devem ter vergonha de proclamar a sua devoção quer à fé quer à razão. A crença de que estão a examinar a obra do seu criador devia levá-las a concluir que jamais devem aldrabar os dados científicos para satisfazer os seus egos e desejo de prestígio, porque isso seria o mesmo que aldrabar as Escrituras. Estariam a prestar “falso testemunho” de Deus. Os católicos que estudam a obra de Deus deviam ser mais dedicados ao rigor no seu trabalho, não menos.
A fé não nos dá qualquer desculpa para nos tornarmos descuidados com a investigação, com os estudos académicos e com a leccionação. Como diz São Paulo, os atletas treinam incessantemente só para ganhar uma coroa de louros; quanto mãos devíamos nós disciplinar-nos para ganhar a coroa da salvação? Se os outros trabalham tanto para vencer algo tão inútil como um Prémio Nobel, não devíamos nós trabalhar ainda mais para ajudar os nossos alunos e concidadãos a aprender sobre o Verbo e a Sabedoria de Deus, tanto no Livro da Escritura como no Livro da Natureza?
De alguma formo metemos na cabeça que se uma universidade for demasiado intelectual, não será suficientemente dedicada à fé. (Tentem dizer isso a Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São John Henry Newman ou São João Paulo II). E depois existe essa estranha ideia moderna de que se uma pessoa é muito devota não pode ser verdadeiramente razoável. (Tentem dizer isso a Newton, Pascal, Boyle e Volta.)
As instituições católicas devem apontar mais alto, sim, mas devem mesmo é apontar ao mais alto. Devemos recordar-nos constantemente, e aos nossos alunos, que o objecto da nossa busca é a realidade mais alta e a fonte de toda a bondade e beleza. Se isso não o encher com zelo pelo estudo, gratidão e amor, então nada o fará.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 25 de Junho de 2024)
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