Neste tempo de Pentecostes muito haveria a dizer sobre a festa em si e sobre o papel do Espírito Santo na vida da Igreja. Contudo, eu gostaria hoje de dizer umas palavras sobre o que o Espírito Santo fez por uma mulher em particular, porque foi o Espírito Santo que tornou Maria Mãe de Jesus e Mãe da Igreja.
Esta abordagem tem muitos benefícios: honra o Espírito Santo, e honra Nossa Senhora durante este seu mês de Maio. Da mesma forma, honra todos os cristãos que levam a sério o trabalho do Espírito Santo seguindo o exemplo de Maria. Na verdade, Nossa Senhora e a Igreja são imagens espelhadas uma da outra. O que o Espírito Santo fez por ela, fez também pela sua Igreja.
São Lucas fez questão de notar a presença de Nossa Senhora entre os discípulos enquanto a Igreja primitiva aguardava a manifestação do Espírito no Pentecostes. O Papa Bento XVI traça uma ligação entre essas duas realidades:
É o tempo da expectativa do Espírito Santo, que desceu com força sobre a Igreja nascente no Pentecostes. Com ambos estes contextos, o “natural” e o litúrgico, combina bem a tradição da Igreja de dedicar o mês de Maio à Virgem Maria (…) ao mesmo tempo, [Ela é] protagonista, humilde e discreta, dos primeiros passos da Comunidade cristã: Maria é o seu coração espiritual, porque a sua própria presença no meio dos discípulos constitui a memória viva do Senhor Jesus e o penhor do dom do seu Espírito.
Falando de Maio como mês de Maria, o cardeal São John Henry Newman, um dos grandes convertidos do Século XIX, comentou que o mês de Maio:
Pertence ao tempo pascal, que dura cinquenta dias, e esse tempo costuma abranger todo o mês de Maio, e sempre a primeira metade. A grande festa da Ascensão do Senhor ao Céu é sempre em Maio, excepto uma ou duas vezes a cada quarenta anos. O Pentecostes, a festa do Espírito Santo, costuma ser em Maio e, frequentemente, também as festas da Santíssima Trindade e o Corpo de Deus. Maio é, por isso, o tempo de muitas aleluias, porque Cristo ressuscitou da sepultura, Cristo ascendeu aos céus, e Deus, Espírito Santo, veio ocupar o seu lugar. (…) Temos aqui a razão pela qual Maio é dedicado à Bem Aventurada Maria. Ela é a primeira de entre as criaturas, a mais aceitável dos filhos de Deus, a mais querida e mais próxima dele. É justo que este mês seja dela, no qual, de forma especial, damos glória e regozijamos na sua grande providência para connosco, na nossa redenção e santificação em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Toda a grandeza de Maria enquanto cristã remonta à descida do Espírito Santo sobre ela e ao facto de Maria ter vivido na presença de Deus, sempre ciente da sua presença na sua vida. Nossa Senhora colaborou com os incentivos do Espírito e viveu em amorosa obediência ao Verbo de Deus, dizendo sempre “sim” a Deus. A Virgem Maria escutou o plano do Senhor para ela e tornou-se fecunda. A vida de Maria era um contínuo canto de louvor ao Pai; ela era uma mulher de paz e alegria, porque cedeu ao Espírito de Deus o controlo da sua vida. Justifica-se perfeitamente, por isso, que a Igreja se refira a ela como a Esposa do Espírito Santo.
Quando a Virgem de Nazaré recebeu o Espírito no seu coração, ela não o guardou só para si; partiu apressadamente para partilhar essa experiência e o seu sentido com outros. Ela compreendeu que a vida no Espírito envolve serviço aos outros. Logo, sem ter em conta a precaridade da sua própria situação, atravessou terrenos montanhosos para cuidar das necessidades da sua prima mais velha, Isabel, que estava grávida.
O que tem tudo isto a ver connosco? Muito, porque aquilo que aconteceu na vida da Mãe do Senhor pode e deve acontecer na nossa. Cada um de nós recebeu o Espírito Santo no Baptismo e no Crisma, mas fizemos alguma coisa com o Espírito? Somos mais pacíficos, apaixonados ou alegres por termos recebido esses sacramentos? Caso contrário, e parafraseando Shakespeare, podemos dizer que a falha não está nos sacramentos, mas em nós, porque não activámos o poder do Espírito nas nossas vidas.
No Pentecostes, o dia de anos da Igreja, olhamos em primeiro lugar para a primeira e maior cristã que alguma vez viveu, sabendo que aquilo que o Espírito fez por Maria, terá todo o gosto em fazer para cada um de nós. Jesus disse: “Pelos frutos os conhecereis” (Mt 7,20). Nós conhecemos bem o fruto de Nossa Senhora: “Bendito seja o fruto do vosso ventre, Jesus”.
E eu, estou possuído pelo Espírito de Deus? Tornei Cristo presente no mundo em que vivo?
O maior evento na história da humanidade foi a Encarnação, quando o Filho de Deus por toda a eternidade revestiu-se de carne no ventre da Bem Aventurada Virgem Maria no momento em que ela disse o seu “fiat” (“que se faça em mim segundo a vossa palavra”), e o Espírito Santo desceu sobre ela.
Ela repetiu esse fiat aos pés da Cruz e tornou-se Mãe da Igreja, quando o seu Filho, à beira da morte, declarou ao discípulo muito amado: “Eis a tua mãe!”. Em cada celebração do Sacrifício Eucarístico devemos pedir-lhe novamente para se fazer presente, enquanto pedimos ao Espírito Santo que desça sobre os dons do Pão e do Vinho, tal como desceu sobre ela, fazendo nossas as belas palavras da oração do Cardeal Newman:
Oh Santa Mãe, fica junto a mim agora na hora da Missa, quando Cristo vier a mim, tal como cuidaste do vosso Senhor recém-nascido – como escutaste atentamente cada uma das suas palavras enquanto crescia, como permaneceste junto da sua cruz. Fica junto a mim, Mãe Santa, que eu possa receber um pouco da tua pureza, da tua inocência, da tua fé, e que Ele possa ser objecto do meu amor e da minha adoração, como foi para ti.
O padre Peter Stravinskas é doutorado em Administração Escolar e Teologia. É editor fundador de The Catholic Response e editor da Newman House Press. Mais recentemente lançou uma licenciatura em Administração Escolar Católica através da Pontifex University.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no Domingo, 19 de Maio de 2024)
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