
Presumo que muitos só vejam este mail na sexta-feira, uma vez que hoje é feriado, 25 de Abril. Ao longo destas cinco décadas foi-se cristalizando nalguns sectores a ideia de que o 25 de Abril se fez, de alguma forma, também contra a Igreja. E se é verdade que muitos elementos da Igreja, incluindo da hierarquia, eram próximos do Estado Novo, também não se pode ignorar que muitos estavam comprometidos na luta contra a ditadura. A Agência Ecclesia tem vários trabalhos por estes dias sobre este assunto, que podem consultar aqui, e a Renascença também, incluindo um podcast com D. Manuel Clemente, uma entrevista com D. José Ornelas. A liberdade também é olhar de forma crítica, mas justa, para o passado da Igreja portuguesa.
A semana foi marcada pela trágica e inesperada morte do padre jesuíta José Maria Brito. Para além de ser uma figura mediática pelo seu papel enquanto comentador e, durante alguns anos, pela comunicação da Companhia de Jesus, o padre Zé Maria era um bom amigo. E foi nessa qualidade, de amigo chocado e que não compreende como Deus nos pôde levar este homem bom, que escrevi este texto. A liberdade passa tanto por perguntar a Deus: Porquê? Como por aceitarmos abnegadamente as suas escolhas.
A vida para os cristãos em várias partes de África continua a ser muito difícil, e muito curta nalguns casos. De Cabo Delgado, em Moçambique, continuam a chegar pedidos de ajuda; na Nigéria continuam a morrer cristãos às centenas todos os meses, e no Egipto, depois de alguns anos de aparente tranquilidade, os cristãos voltaram a ser atacados recentemente, vendo várias das suas casas incendiadas por extremistas muçulmanos. A liberdade passa também por reconhecer e recordar os sítios onde ela ainda não existe.
Aconteceu uma polémica curiosa no mundo católico de língua inglesa nos últimos dias. O site de apologética católica Catholic Answers apresentou um novo funcionário. O “Padre Justin” era um avatar de Inteligência Artificial que respondia a dúvidas sobre a Igreja, recorrendo ao arquivo de respostas do site, e outra informação. A reacção dos internautas católicos foi de tal forma má que o Padre Justin foi retirado de circulação, mas a empresa garante que quer continuar a investir na IA. A Inteligência Artificial é um instrumento útil para a humanidade, ou um risco para a liberdade?
O artigo desta semana do The Catholic Thing é muito interessante. John Grondelski fala de uma série de artigos que Karol Wojtyla escreveu bem antes de ser eleito Papa, em que demonstra como os sentimentos de responsabilidade, obrigação e culpa comprovam a existência de uma moralidade externa a nós. Trata-se de um ensinamento cada vez mais importante no nosso mundo. A liberdade passa também por reconhecer que a nossa autonomia não é radical, e que a liberdade não é libertinagem.
E termino com um convite para visitarem uma interessante exposição em Santarém. Liberdade Garantida surge como parte das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, no Museu Diocesano de Santarém. A exposição, organizada pelo artista Miguel Cardoso, parte da experiência de refugiados – incluindo muitos que arriscam tudo para chegar à Europa através do mar – para nos falar da importância da liberdade religiosa. Porque a liberdade, para ser verdadeira, também tem de ser religiosa.
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Excelente artigo.