O processo relativo ao Pe Mário Rui, do Patriarcado de Lisboa, foi arquivado. O arquivamento foi comunicado pelo Patriarca ao próprio na quarta-feira, dia 14, e torna-se pública a partir desta quinta-feira. Não sei se haverá comunicado no site do Patriarcado (se não há, devia haver), mas a informação também me foi confirmada por fonte próxima da Comissão Diocesana e sei que o próprio sacerdote fez questão de enviar uma longa declaração a amigos e paroquianos.
Antes de mais, esta é obviamente uma boa notícia. O arquivamento é sinal de que não foram encontrados quaisquer indícios que corroborem a denúncia anónima que foi feita contra ele à Comissão Independente. Sei que a alegada vítima também nunca se deu a conhecer, por isso não havia qualquer matéria que pudesse levar a que o processo continuasse.
Os textos que eu escrevi sobre o Pe. Mário Rui deram sempre azo a bastante discussão e muitas críticas, o que só atesta a sua enorme popularidade junto de muitos fiéis. Mas sempre fiz questão de dizer que nesta matéria de abusos é importante seguir os processos à letra. Isto implica que era importante investigar esta denúncia, o que foi feito, mas significa também que, uma vez arquivado o processo, esta decisão também deve ser aceite por todos e, por isso, o Pe. Mário Rui deve ser considerado inocente e tratado como tal.
Se bem se recordam, juntamente com o Pe. Mário Rui foram preventivamente afastados mais três padres do Patriarcado de Lisboa. Ao que consegui apurar, os processos destes sacerdotes estão um pouco mais atrasados, daí hoje só ser notícia a conclusão deste.
Em relação a este processo, algumas notas:
O processo decorreu mais ou menos dentro do tempo previsto, de três meses. Em tempo de Igreja, e mesmo em tempo de justiça civil, pode-se dizer que foi rápido e eficaz, dentro das expectativas deixadas por anteriores processos no Patriarcado de Lisboa e não só, o que mostra que as reformas impostas por Roma estão também a funcionar a este nível.
Nestes três meses o que é que se passou? A Comissão Diocesana recebeu do Patriarcado a lista de padres referidos em denúncias e recomendou ao patriarcado o afastamento provisório deste padre em particular, entre outros, para melhor investigação; foram recolhidos alguns dados provisórios e enviados para Roma; o Dicastério para a Doutrina da Fé mandou abrir uma investigação ao nível do Patriarcado e esta decorreu, sem que tivessem sido encontrados outros indícios que validassem quer a denúncia original, quer qualquer outra situação que se enquadre na tipologia de abuso de menores; o processo foi arquivado.
Este é um dado muito significativo. O abuso de menores tende a ser um padrão de comportamento. É raro – embora exista – o abusador que só abusa de um menor em toda a sua vida. Logo, os abusadores tendem a deixar um rasto por onde passam, que pode ser identificável numa investigação. Ora, durante o seu ministério o Pe. Mário Rui esteve muito envolvido em muitos ambientes onde teve contacto com menores, nomeadamente escolas, agrupamentos de escuteiros, movimentos, etc., O facto de, durante a investigação, não se ter encontrado qualquer outro indício para além da denúncia citada pela Comissão Independente, e que por falta de denunciante nunca passou de anónima, abona muito a favor da inocência do acusado.
Com o levantamento do seu afastamento provisório, o Pe. Mário Rui volta agora ao ministério activo, sem qualquer restrição.
Disse, numa primeira instância, que não apreciava o tom e o estilo com que ele escreveu uma primeira declaração, quando soube que era acusado, e mantenho essa minha opinião em relação a esta segunda declaração que ele publica hoje, em que dá conta do arquivamento. Discordo sobretudo das críticas que faz à Comissão Diocesana, que me parece que apenas cumpriu o seu mandato e as orientações vindas do Vaticano. Todo este processo já é suficientemente difícil, não me parece útil nem desejável minar o trabalho dos que foram escolhidos pelo Patriarca para o levar a cabo, por mais que uma pessoa em particular se tenha sentido injustiçado pela acusação que lhe foi feita.
Com este último desenvolvimento, actualizei a lista de casos para reflectir o arquivamento do processo do Pe. Mário Rui e também a cronologia.